Opinião

Contra a indiferença

Quantas vezes nos queixámos de indiferença e de apatia? Muitas.
Indiferentes face ao nosso destino. Apáticos na iniciativa ou na vontade de manifestar de forma assertiva o que pensamos e o que exigimos. Tantas vezes alheados dos caminhos, das opções e das consequências.
Indiferentes porque não votamos. Apáticos porque não nos manifestamos. Alheados porque não exigimos.
Essa indiferença e apatia generalizada colocam os que se manifestam como a exceção à regra.
E é nessa exceção que se enquadram 50 homens e mulheres dos Açores que recentemente divulgaram uma Carta Aberta Contra a Indiferença.
Há uns meses escrevi sobre a normalização da mediocridade. Esta é uma carta contra a normalização da indiferença. Vai muito além da mediocridade. Coloca o dedo em feridas que se aprofundam a cada dia que passa nos Açores.
A ferida na Autonomia e no normal funcionamento das instituições democráticas. A ferida na coesão. A ferida na liberdade. A ferida na igualdade.
Nas palavras dos autores:
“A Autonomia, conquista de múltiplas gerações de Açorianos, não é um dado adquirido.
Deve, por isso, ser protegida, salvaguardada, nutrida e reforçada pelos valores democráticos, pela firme consciência de uma identidade comum, pela inexorável convicção de que, nestas nove ilhas feitas de lava e de mar, é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa. “   
Não podemos, por isso, não estar interessados em conhecer o conteúdo de um alegado novo acordo estabelecido entre o Governo dos Açores e o Partido Chega para viabilizar o Plano e Orçamento da 2022. Claro que não podemos. Estes 50 açorianos estão interessados. Estão incomodados com o silêncio. Estão indignados que tudo seja urdido às escondidas. Nas costas dos açorianos.
Querem saber o preço? Querem saber o custo desta cedência do Governo ao Chega? Claro que queremos. Mais, exigimos saber.
Dizem mais:
“Não podemos, por isso, calar a preocupação quando verificamos que os Açores – e a nossa Autonomia – têm vindo a ser alvo de perniciosas tentativas de aproveitamento político, um mero joguete nas mãos de alguns dirigentes políticos nacionais que, fruto do atual quadro parlamentar saído das eleições regionais de 2020, tentam instrumentalizar ou subjugar os órgãos de governo próprio Açorianos às suas estratégias políticas partidárias.
Não podemos calar a nossa profunda indignação ao vermos o Governo dos Açores chantageado e humilhado, com a imposição de condições como, por exemplo, um subsídio de natalidade que ostraciza alguns segmentos da população, ou a extinção da companhia aérea SATA Internacional, e, até mesmo, a remodelação do Executivo Regional.” 
Estas preocupações não podem cair em saco roto. Não podem!
Exige-se por isso algo muito simples: publicite-se o acordo!
“Não é possível, numa democracia madura, transparente e exigente, manter os seus cidadãos à margem dos acordos negociados, supostamente, em nome destes.  (…) Não podemos, por isso, assistir impávida e serenamente aos últimos acontecimentos, aceitar de modo cúmplice e em silêncio a chantagem e a falta de informação sobre um acordo que a todos diz respeito, nem, muito menos, considerar natural e normal todas as circunstâncias aqui descritas, e, por essa via, contribuir para a sua “normalização”.
Terminam a missiva relembrando a máxima inscrita no nosso brasão: “Antes Morrer Livres que em Paz Sujeitos”.