Opinião

Olho aberto, caro amigo, é esta a escola de Rio!...

     

      Ó minha nossa Senhora! Esta agora faz-me imediatamente lembrar aquela outra história do tal vendedor de mercado que orgulhosamente apresentou, para fazer negócio, um belo cavalo:
"- Olhe, se faz favor, o senhor desculpe, mas quanto custa mesmo esse belo animal?! - perguntara o cliente ao mercador.
- Apenas dez euros - respondera o homem - nada mais baratinho!
- É mesmo!? Então eu quero, não venda a outro, por favor, eu quero mesmo comprá-lo! - dissera, de entusiasmo estampado no rosto, o visitante.
- Certíssimo! E quem levar o cavalinho levará também aquela galinhinha ali do canto...
- Ah é?! Ok, sem qualquer problema, assim farei! E quanto é então a galinhinha?!
- É dez mil, senhor... barata! Essa não é só bela, é verdadeiramente um animal de puro sangue!..."

Então, não é que no programa eleitoral do Sr. Dr. Rui Rio - armadilha muito mal camuflada, diga-se - lêem-se, numa mesma página, parágrafo com parágrafo, preciosidades como esta:
"- Número de alunos por turma e a sua distribuição passa a ser responsabilidade das escolas. (...)
- A afetação de horários docentes é feita com base na organização dos ciclos, considerando a dimensão média de turma de 22 alunos."
Fantástico! Difícil, mas acho que percebi a ideia! A escola decide, com toda a sua plena autonomia, por turmas de 11, 17, 15, 9 e 13 alunos, um exemplo, e depois, os docentes adstritos à escola, através do seu milagroso poder da ubiquidade, serão responsáveis por essas turmas atribuídas como ainda por todas as outras, eventualmente, formadas pela diferença de "alunos sobrantes" até à média estabelecida de 22!...Ora aí está! Fazes as turmas do tamanho que quiseres, mas na condição de que tens direito ao mesmo número de docentes correspondentes a turmas de 22 alunos! Boa!! Diria mesmo, brilhante!!
Mas há mais, e na Educação ainda, deixando a nu a muito difícil aprendizagem dos seus próprios proponentes, qual aluno de elevadas dificuldades cognitivas: o casmurro regresso à visão de que o ensino/aprendizagem se deve fazer investindo, fortemente, numa avaliação sumativa constante - exames, provas, testes - no lugar do foco se encontrar no próprio ensino, no lugar de se investir na própria aprendizagem, devidamente apreciada por avaliações formativas e de aferição regulares...

E na mesma área de especialidade ainda, a Educação, ora atentem bem: "alargada recondução dos docentes, contratados ou do quadro, sempre que exista mútuo acordo entre a Direção da Escola e o docente". Bom, imediatamente possuído por uma dupla e contraditória sensação de rir e, simultaneamente, de chorar! Honestamente, a minha suspeita é de que esta brilhante ideia terá nascido na margem mais à direita possível do rio (ou de Rio, melhor dizendo), certamente (só pode!), fazendo até parte de um qualquer secreto pré-acordo eleitoral... pois então será bom que se mentalizem, meus caros, sendo este o programa a receber luz verde dos eleitores para avançar. Comecemos todos a pensar, senhoras e senhores professores que pretendem continuar a lecionar, em pendurar bem à vista, na lapela, o cartãozinho laranja, eventualmente às bolinhas timbradas com o território nacional, traçado ainda por uma palavrinha de cinco letrinhas apenas!... Até porque, para além das reconduções "só para amigos", há ainda mais esta, igualmente não ignorável para qualquer professor que assim se queira manter: "avaliar a capacidade e competência para o exercício profissional da docência ". Provas, exames e testes, para que as senhoras e senhores professores também não se fiquem a rir dos meninos. Ah, pois é!... Toma lá, que é para aprenderes! Quem quiser o cavalinho...