Opinião

Cavernícolas

Mais uma vez ostensivamente ignorada e desprezada. Depois de, em abril passado, o líder turco a ter secundarizado, agora foi a vez do Ministro dos Negócios Estrangeiros do Uganda evitar cumprimentar a Presidente da Comissão Europeia, na cimeira UE-África. Em comum nestes tristes episódios a presença insuportavelmente passiva do belga Charles Michel que, uma vez mais, se limitou a assistir quedo e mudo. Valeu, ainda assim, o pronto reparo do Presidente francês que, face à misoginia declarada, exortou o governante africano a reconhecer Ursula Von der Leyen. É verdade que, para os cavernícolas da supremacia de género, as mulheres não deviam desempenhar cargos relevantes e de liderança. Alguns até, para justificar a idiotia, refugiam-se no argumento cultural e antropológico, afinal, apenas uma forma de atenuar, sem sucesso, o evidente preconceito. Um ato deplorável, mesmo que beba da raiz de um caldo cultural e civilizacional ultrapassado, não deixa, ainda assim, de merecer repúdio. Charles Michel é, também por isso, um ator cada vez mais secundário da teia eurocrata, a qual parece cada vez mais distante da realidade do cidadão médio europeu.