Opinião

Sinais pouco autonomistas

O XXIII Governo Constitucional, liderado pelo Primeiro-Ministro António Costa, já está empossado. O Programa do Governo (2022-2026) também já é do conhecimento público, uma vez que já foi entregue na Assembleia da República. Posteriormente, lá para maio, teremos Orçamento do Estado aprovado. Desta feita, fruto da maioria absoluta, sem quaisquer dramas ou novelas políticas. Mas, e enquanto se aguarda pela entrada em velocidade cruzeiro da governação, como seria de esperar, já corre muita tinta sobre as personalidades escolhidas para integrarem o elenco governativo. A esse respeito, e à primeira vista, a maioria absoluta não trouxe ventos favoráveis. Aliás, trouxe sim um vendaval. No XXII Governo tínhamos, como insignes representantes da Açorianidade, um Ministro (Serrão Santos) e um Secretário de Estado (José Couto). Desta feita, António Costa entendeu não conceder essa honra a nenhuma personalidade dos Açores. A esta omissão, teremos de juntar a escolha do madeirense Paulo Cafofo para Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. Para que fique claro, nada tenho contra esta escolha. Nem contra as demais. Registo, apenas, a omissão de representes dos Açores entre 17 ministros e 38 secretários de estado. Esta foi a opção política de António Costa. E é essa opção que me merece crítica e que me deixa preocupado. A política faz-se, também, com sinais. O sinal dado através da escolha do elenco governativo é, infelizmente, um mau sinal para a Autonomia. Teremos, como alguém já escreveu, um Governo feito à imagem de uma “corte” de Lisboa. Temo, por isso, um agravamento do centralismo. O mesmo centralismo que foi denunciado, publicamente, pela Ministra Ana Abrunhosa. Esta governante, se bem se recordam, numa cerimónia de evocação dos 20 anos do Douro Património Mundial da UNESCO, que decorreu em Viseu, referiu no seu discurso que “o Governo tem que deixar de ser tão centralista”; “Basta pensar que o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) tem sede em Lisboa, não há nada mais anacrónico” e continuou dizendo “O que o Douro e todo o território tem que reclamar é um Estado menos centralista, e que no Governo, no Conselho de Ministros tenhamos mais país”. Em conclusão, referiu que não se pode continuar a ver o país com “as lentes de Lisboa”. Umas horas depois, a Senhora Ministra da Coesão Territorial (!!) veio a público dizer que tinha sido infeliz e injusta para com o Governo. A governante foi reconduzida na mesma pasta e não tenho dúvidas de que continua a pensar o mesmo (antes do esclarecimento, diga-se). As “lentes de Lisboa”, provavelmente, nunca foram tão fortes como agora. No entanto, pode ser que o meu pessimismo não se confirme, bem como seja atenuado o peso de fatores que não deviam nortear a ação governativa, e assim se resolvam dossiês “encalhados” há demasiado tempo. O mar, o espaço, a justiça, as forças de segurança, a mobilidade, as comunicações, as finanças, etc.… são temas que necessitam de respostas concretas e um olhar muito especial para os Açores. No Programa do Governo consta quatro vezes a palavra “Açores” e uma página dedicada ao tema “Potenciar a autonomia regional”. O Programa tem 181 páginas. Espero que não seja outro sinal…