Opinião

Um violino no telhado

Terça-feira passada era a única coisa que me ocorria: um homem só no alto da cumeeira do telhado, tentando arranhar uma melodia simples sem "despencar" lá de cima.
Que equilíbrio tão difícil!
Um ano e meio de crónicas e de "mortes" anunciadas!
Já há muito havia sido anunciada pelo Chega a remodelação do Governo do Açores, com data-limite e tudo. Também já há muito que o PPM havia anunciado que tinha perdido a confiança política em Mota Borges. Também já há dias se havia percebido que saindo Ricardo Tavares, a Suzete Amaro não ficaria para contar a estória das fechaduras trocadas. No caso de Bastos e Silva, aquilo que meio mundo via, outro meio mundo ignorava. Eu diria até quecai empurrado pelo Chega e com a ajuda de outras mãos invisíveis, mãos que se tentam limpar e evitar um mal maior.
Estiveram e ainda estão (porque a dança das cadeiras ainda não terminou) entretidos neste entra e sai. Cada um a ver quem ficou a ganhar ou a perder. A aplaudir enérgica e nervosamente para fazer crer que agora é que é. E à margem desta dança estão as famílias, as empresas e as instituições, incrédulas com o espetáculo decadente.
Certamente que sob a forma de musical ou de livro, muito haveria para contar e para cantar.
Mas a realidade fala muito mais alto. Com mudanças ou sem elas, com velhos novos protagonistas, continua o desnorte.
Basta ver a ausência de respostas aos empresários e famílias de São Jorge, adiadas sem justificação. Ou melhor, as justificações existiram, mas escuso-me de as repetir pela demagogia de que enfermam, mesmo assim não posso deixar de atestar o choque que senti ao ouvir a bancada da minoria governante afirmar que quem saiu o fez porque quis e que por terem saído foram e são irresponsáveis. No fundo, se saíram foi porque quiseram, agora não há apoios para ninguém.
Basta ver a ausência de respostas às famílias e empresas pelo aumento do custo de vida e do custo dos fatores de produção. Bem se viu a cena triste do preço do combustível. Quando o PS há mais um mês avançou com uma proposta concreta de redução do ISP, era, nas palavras do Governo impossível. Depois anunciou o Governo uma redução do preço por via de acordo e apoio direto aos revendedores. Depois, afinal não havia acordo, afinal era com as gasolineiras, e no fim de contas a redução do ISP era possível só que não foi essa a opção. Nisto, perdeu-se mais de um mês.
Basta ler a contestação do sector da cultura, órfão de diretor, de facto, há mais de um mês, com apoios de 2021 por pagar, com apoios de 2022 por aprovar, lidando com enormes dificuldades nos últimos dois anos a que se junta a insensibilidade e o desnorte deste Governo em matéria de política cultural. Pelos visto é fácil encher a boca para falar de filarmónicas, grupos de folclore, de teatro, de dança, de bailhinhos e asseverar o quanto são importantes para os Açores. Já me está a parecer bem mais difícil fazer diferente e, sobretudo, fazer melhor. Chegámos ao ridículo de perceber que há agentes culturais na região que sobrevivem com a apoios do Ministério da Cultura e que são estes apoios que ao longo do ano asseguram o financiamento das atividades.
Este novo velho Governo, no alto da sua cumeeira, toca, mas toca muito baixinho e muito desafinadinho.