Opinião

Um Serviço Regional de Saúde cada vez menos atrativo

Formação, captação e fixação de profissionais de saúde constituem-se como desafios prementes e transversais a muitos dos sistemas de saúde.

Perante tal dificuldade e constrangimento, é comum os governos desenvolverem políticas de incentivos para atrair profissionais de saúde para áreas mais carenciadas, encontrando-se o sucesso dessas políticas dependente dos processos relativos ao seu desenvolvimento e implementação.

Contudo, relativamente e inerente a esta problemática, não podemos deixar de considerar um aspeto fundamental: a atratividade para a fixação dos profissionais.

O que motivará os profissionais de saúde para que concluída a sua formação, permaneçam e se fixem nos diferentes contextos da prática clínica?

A questão não é nova nem recente e, por isso, uma evidência da dificuldade em resolver o problema.

Existem diversos fatores que influenciam a maior ou menor atratividade de uma unidade ou região para captar e fixar profissionais de saúde.

Existem fatores intrínsecos e extrínsecos aos profissionais de saúde que os levam a optar por ficar ou a sair em busca de melhores condições.

A distância para a residência de familiares, a facilidade de acesso a habitação, a empregabilidade de cônjuges, a formação, bem como a oportunidade de estagiar em áreas carenciadas, surgem como fatores intrínsecos a ter em consideração, para além dos extrínsecos como o são exemplo os apoios fornecidos à família, a possibilidade de diferenciação e progressão na carreira, boas equipas e bons ambientes de trabalho.

O caso dos médicos é dos mais prementes.

Para este ano foram abertas 1451 vagas para Medicina nas sete instituições públicas.
De todas as universidades com o curso de Medicina, apenas as universidades de Coimbra e da Beira Interior aumentaram o número de vagas para o ano letivo: cinco em cada estabelecimento de ensino.

É manifestamente insuficiente, pese embora a abertura de 70 vagas no ensino privado da Universidade Católica.

E o problema das vagas também não é novo, pelo contrário.

Os Açores, pela sua condição arquipelágica e ultraperiférica vêm agravada a dificuldade em formar, captar, fixar e consequentemente atrair profissionais de saúde para os quadros das diferentes unidades de saúde.

Na Região, nos últimos anos foi desenvolvida uma política que possibilitou integrar no Serviço Regional de Saúde profissionais das mais diferentes áreas da saúde, melhorando, de forma inegável, a acessibilidade aos cuidados de saúde.

Com o governo de coligação PSD, CDS e PPM, com os acordos de incidência parlamentar com Iniciativa Liberal e Chega, foram prometidos incentivos para médicos e enfermeiros.

Mas as notícias não são animadoras.

Os anúncios e os números apresentados pelo Governo Regional não encontram correspondência prática nas unidades de saúde e, consequentemente, na atividade assistencial.

Os médicos formados na Região estão a sair porque não compreendem como é que alguém que dirige uma instituição só está disponível para os atender de segunda a sexta, das 9 às 17h.

Os médicos formados na Região estão a sair porque não são abertas vagas quando terminam a sua especialidade.

Os médicos formados na Região estão a sair porque assistem incompreensivelmente ao grau de saturação dos seus tutores, de chefes de equipa e de diretores de serviço perante as ingerências externas no seu processo de tomada de decisão.

Os médicos formados na Região estão a sair porque o pedido para realização de trabalho suplementar parece não ter fim.

A isto juntam-se notícias de serviços de urgência sem pessoal médico, notícias de consultas que tardam em ser marcadas, outras que são adiadas, cirurgias inexplicavelmente canceladas, transferências de utentes de ilhas sem hospital que demoram dias para serem realizadas.

Anúncios, números e promessas governamentais e dos partidos que suportam o governo como o que assistimos, por exemplo, relativamente às ilhas Graciosa e de Santa Maria.

"Graciosa, Santa Maria, podem contar, a partir de agora, nas suas unidades de saúde, com reforço de médicos especialistas em medicina interna", foi afirmado em julho na Assembleia Legislativa Regional.

Ficámos a saber que o concurso para a Graciosa ficou deserto por inexistência de candidatos e o de Santa Maria ainda está por ver a luz do dia.

A matemática diz-nos que a soma de números com sinais iguais constitui adição, daí que menos com menos dê mais.

Mas por mais que nos queiram fazer crer nessa máxima matemática a verdade é que a mesma não se aplica ao Serviço Regional de Saúde: menos com menos não está a dar mais e, com isso, temos um Serviço Regional de Saúde cada vez menos atrativo.