Em pouco mais de um ano o Bastonário da Ordem dos Médicos deslocou-se por duas ocasiões aos Açores.
A primeira ocasião surgiu após o conhecimento dos problemas relatados pelos médicos do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada (HDES).
Foram públicos, os problemas de falta de comunicação e diálogo entre médicos e o Conselho de Administração da referida unidade, com a tomada de decisões clínicas sem a auscultação prévia dos médicos em geral ou dos próprios diretores de serviço.
Recorde-se que este Conselho de Administração foi o primeiro a ser nomeado por este Governo, demitindo o anterior devido a supostas "queixas e reclamações com tempos de espera".
Disse, então, o responsável da tutela, que "num período exigente como é uma Pandemia, num período em que vai abrir um hospital privado e perante um conjunto de situações que chegam ao conhecimento da tutela da instabilidade no serviço, é importante que haja uma consonância e coesão com a tutela e com os princípios que estão determinados".
Perante as queixas apresentadas pelos médicos relativamente a este Conselho de Administração o que foi feito pela tutela? Nada.
A Ordem dos Médicos fez o que a tutela não fez, ou seja, deslocou-se ao HDES e reuniu com os médicos e com o Conselho de Administração para perceber o que se passava, numa atitude conciliadora e promotora do diálogo.
No final desta visita a Ordem confirmou a existência de problemas internos e repudiou as "insinuações graves nas redes sociais", por estas nada abonarem "a favor do que é preciso fazer nos Açores para as pessoas darem o melhor de si".
Infelizmente, tem sido esse o modus operandi deste Governo e dos cargos de direção e chefia por ele nomeados: muito ativos nas e com as redes sociais e passivos na governação e na gestão como lhes compete.
Entre a penúltima e esta última visita do Bastonário da Ordem dos Médicos foi sendo instalada na Região como que uma máquina de propaganda do Governo.
Procurou-se, em todos os momentos e por todas as vias, passar a mensagem de que no Serviço Regional de Saúde tudo navegava de vento em popa com este executivo, contrastando com os anos de governação socialista e a "pesada herança" por estes deixada.
Mais consultas médicas, mais exames, mais cirurgias, mais médicos, mais e mais e mais de tudo um pouco.
Quem questionasse o Governo com números e dados concretos, confrontando a propaganda instalada, muitos deles fornecidos e publicados pelo próprio Governo, era e é, desde logo, adjetivado de "alarmista", de querer incutir a "cultura do medo", de apresentar uma atitude "negativa", contrastando com uma propalada "governação positiva".
Aconteceu com o Grupo Parlamentar do PS/Açores (GPPS/A) bem como, mais recentemente, com utentes e alguns profissionais de saúde que vieram a público expor esses problemas.
Acontece a mais recente visita do Bastonário da Ordem dos Médicos.
De entre vários problemas levantados pelo Bastonário da Ordem dos Médicos, um deles foi destacado e desmentiu o Secretário Regional da Saúde e Desporto.
Existe um atraso nos concursos para "assistente de Medicina Geral e Familiar em São Miguel" que faz com que jovens médicos estejam, desde abril, formados como especialistas, mas continuando a ser pagos como internos.
Quem viu e ouviu o Secretário Regional da Saúde e Desporto, por mais que uma vez, afirmar aos sete ventos que no tempo da governação socialista é que os médicos esperavam meses, "meses!" vociferava o responsável da pasta, mas que agora com este governo isto não acontecia, pensa agora: então, mas afinal como é?
Afinal havia outra já diz a música.
Outra versão.
A versão dos médicos e utentes, com a qual o GPPS/A já tem questionado este (des)governo.
Pois é, quem quis governar e quem assumiu que iria fazer diferente, mais e melhor, como esta coligação fez, demonstra, manifestamente, a sua incapacidade para o fazer.
São necessárias mudanças.
No fundo, nem tudo pode ser "Som, Luz, Câmara, Ação!".