Estive nas Flores em 2019, logo a seguir ao Furacão Lorenzo. Regressei depois num Grupo de Trabalho da ALRAA para acompanhar a requalificação do Porto das Lajes que tinha ficado completamente destruído. Voltei na passada semana e senti que as dificuldades eram as mesmas ou ainda piores do que no início desta crise.
A Graciosa e as Flores não são muito diferentes. As duas ilhas têm a sua economia baseada na agricultura, pesca e, mais recentemente, no turismo e ambas também registam problemas nos transportes e nos acessos aos mercados, quer para as exportações, quer no que respeita às importações.
Abstendo-me de fazer apreciações ao trabalho que este Governo ainda não fez e que já devia ter feito, tenho de reconhecer que fiquei estupefacto quando ouvi o seu Presidente, também na passada semana, dizer que não tinha havido rotura no abastecimento à ilha das Flores, no mesmo dia em que as televisões mostravam prateleiras vazias. Não deve ter falado com ninguém daquela ilha, ou então só falou com aqueles que lhe dizem apenas o que gosta de ouvir, ou seja, que está tudo bem.
Pior fiquei quando vi uma publicação de um Diretor Regional, com responsabilidade na área dos transportes, admirar-se com a indignação dos Florentinos pelo atual estado de coisas, ao ponto de dizer, e tenho de citar de memória, porque, entretanto, a publicação foi apagada, o que tinham em matéria de transportes já era bom, ou seja, viagens quinzenais e ainda o Thor, este já como uma espécie de bónus. Estão a ver esta bondade?
Era bom ter explicado porque interrompeu o contrato com o N/M Malena, navio mais pequeno e mais flexível do que o contratado agora, o Ponta do Sol, porque a sua função, neste caso muito particular, é garantir, da forma o mais fiável possível, o abastecimento daquela ilha e com o atual navio as dificuldades da operação aumentaram significativamente. Este senhor devia, em primeiro lugar, queixar-se de si próprio e não colocar o ónus nos Florentinos que mereciam muito mais deste Governo.
Devia também pedir desculpa pela graçola que fez com os Florentinos a propósito da autossuficiência alimentar, quando foi o próprio Governo, a que pertence, que contribuiu para acabar com a produção de queijo, iogurtes e manteiga naquela ilha, reduzindo, e de que maneira, a produção local que, reconheça-se, era de qualidade.
Fazer um apelo para que os Florentinos produzam mais, pode até parecer um ato bondoso, mas da maneira como foi feito é de uma deselegância absoluta, quando se sabe que nenhuma das nove ilhas dos Açores, nem sequer a dele, é autossuficiente em termos alimentares.
Um responsável pela área dos transportes deve focar-se nisso mesmo e não a dar conselhos desajeitados sobre produção agrícola.