Opinião

O diálogo nunca existiu

Em 2020, quando os partidos que perderam as eleições se juntaram para governar os Açores, rapidamente surgiram promessas veladas de transparência e diálogo, apresentadas como uma marca da nova ação governativa dessas minorias unidas.

A transparência foi o que se viu. Sucessivas situações que seriam escandalosas em qualquer lugar, são constantemente branqueadas mesmo por aqueles que juraram lutar contra a corrupção e o compadrio. Não se consegue perceber como é possível ainda acreditar naqueles que se empinam e se autodenominam defensores da transparência, mas que, no fundo, se vergam perante factos que envergonham qualquer um.

Vale a pena abordar o diálogo, aquela que é outra máxima deste governo.

Todos nos lembramos das visitas estatutárias com os governantes mantidos longe das pessoas, as audiências recusadas e a muito notada falta de membros do governo quando as situações são mais sensíveis. Recordamos o encerramento de salas dos jardins de infância feito às escondidas dos pais. Também nos lembramos das decisões de acabar com o transporte marítimo de passageiros e dos encaminhamentos aéreos tomadas sem falar com os representantes das populações. São também conhecidos casos de membros do governo que não falam entre si e governantes que não falam com as administrações das empresas públicas que eles próprios tutelam. Mais recentemente temos o caso da tentativa da venda de um teatro contra tudo e contra todos, novamente sem ouvir as pessoas. Também não podemos esquecer as dificuldades que os Florentinos sentiram para falar com o governo quando na sua ilha faltava quase tudo.

São vários os momentos que sugerem que este governo não quer interlocutores, não quer ouvir ninguém, acha que não precisa de falar com ninguém.

Outro momento que deu bem nota desta trapalhada foi a assinatura de um protocolo em que foram, supostamente, transferidas competências dos Bombeiros para a Guarda Nacional Republicana, rubricado pelo próprio presidente e, mais uma vez, sem sequer avisar as associações que estão presentes em, praticamente, todos os concelhos dos Açores.

Depois de se ter construído um serviço de proteção civil assente nas associações humanitárias, depois de se ter investido, e muito, na formação permanente nos nossos bombeiros (voluntários e profissionais), vem o governo, pela mão do seu responsável máximo, transferir tarefas que estavam na alçada dos Bombeiros.

Para além de ninguém perceber o que está na sua génese, esta medida representa uma profunda falta de respeito por todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, estão envolvidos na rede de proteção civil dos Açores. É mesmo uma afronta aos que, de um modo abnegado, lutam diariamente por manter vivas estas instituições.  

Chegamos à conclusão de que o diálogo, prometido como um novo paradigma deste governo, afinal nunca existiu e, por isso, só podemos estar perante uma retorcida falácia.