Depois dos atentados linguísticos, com o propósito de neutralizar o género, o alvo é a literatura. Diversos livros estão a ser censurados e outros escondidos em várias bibliotecas públicas e escolares dos EUA e de Inglaterra. Vivemos tempos perigosos em que a literatura é, apenas, mais uma vítima da imposição de padrões esterilizados, herméticos, concebidos com o fito único de não ferir qualquer sensibilidade, amputando a expressão cultural de uma das suas insubstituíveis missões: questionar/provocar e, por essa via, ajudar a pensar. O problema da padronização é que não deixa espaço para o deslumbramento, para a inquietação, para a indignação. Qualquer purga visa obliterar a diferença e, se bem-sucedida, a narrativa histórica cede à adulteração por conveniência. Já por diversas vezes aconteceu, casos em que o Presente, convencido de uma pretensa superioridade moral/intelectual quer, pela força, impor-se ao Passado e delimitar a sua expressão. O problema é que nenhuma sociedade se torna mais rica e desenvolvida quando começa a queimar, censurar ou a esconder livros. A ditadura do politicamente correto é hoje uma ameaça à liberdade crítica e de pensamento.