Opinião

Um Real Delírio

O monárquico mais conhecido dos Açores deu uma entrevista a este jornal na passada terça-feira. O deputado do Corvo esforçou-se para fazer passar três ideias que merecem contestação. A primeira foi que a coligação governativa é estável e está para durar. Tratou-se de um mero exercício de propaganda que desafia a inteligência e que por isso não merece crédito.

A segunda é que José Bolieiro é o grande líder do governo. Em Outubro de 2020 o mesmo deputado escreveu que “Bolieiro não reúne as condições para liderar um governo dos Açores”. Dois meses depois, após as eleições, ou seja, após fazer o negócio da sua vida, o parlamentar afirmou que se tinha enganado. Mudar de opinião pode ser uma virtude mas quando essa alteração coincide com um assalto ao poder normalmente a designação é outra.

A terceira ideia veiculada era o imperativo da entrevista: o PS em Lisboa “tem um plano para asfixiar financeiramente o governo regional”. As referências a um inimigo externo e a responsabilização deste por todos os insucessos da governação é um clássico dos populistas. Na Madeira João Jardim viveu deste expediente durante décadas. Jardim escrevia semanalmente no jornal Diabo sobre os “inimigos da Madeira”. Um misto de conspirações de “cubanos”, “lésbicas da maçonaria” e “agentes secretos da CIA” - as hilariantes tramas de Jardim superavam, em imaginação, os célebres livros de espionagem do reputado escritor John le Carré.

Para azar de Paulo Estevão, no mesmo dia em que a sua entrevista foi publicada, o Secretário das Finanças anunciava a aquisição de dois navios elétricos no valor total de 25 milhões de euros. Um investimento só possível porque o Governo da República do PS reforçou em 95 milhões de euros o PRR para os Açores.

Eis a credibilidade da tese do PPM sobre a conspiração socialista contra os Açores. Não durou 24 horas. A circunstância encarregou-se de desfazer mais um real delírio do deputado monárquico ex-grevista de fome.