Opinião

O referencial de instabilidade

Fiquei incrédula e como eu muitos dos que vivem nestes nove torrões no mar plantados. Fui rapidamente bombardeada com mensagens de todos os quadrantes alertando para mais uma pérola lançada no e do Atlântico Norte.
Então José Manuel Bolieiro define-se como referencial de estabilidade? Já tínhamos ouvido muita coisa e eu achava que já tínhamos ouvido quase tudo: “eu, o humilde”, “eu, o transparente”, até mesmo “eu, o Presidente”. E agora? “Eu, o referencial” e logo de quê? De estabilidade!
Fico sempre apreensiva quando alguém procede a juízos públicos de auto adjetivação. Acho que mais do que querer convencer os outros, quer convencer-se de que é humilde, transparente, presidente e referencial do que quer que seja.
E logo me lembrei de Clélio Meneses e da sua saída com grande estrondo apontando o dedo a Bolieiro e à sua incapacidade para gerir a situação política nos Açores. E no segundo seguinte recordei-me de Joaquim Bastos e Silva e das suas recentes crónicas em que caracteriza, com propriedade, a disfunção e inconstância que grassa neste governo e que, no seu entender, é resultado do peso excessivo das minorias que o compõem. Como a minha memória já não é o que era, faltarão muitos Ex isto ou Ex aquilo, que atestam a ausência de estabilidade, já para não falar na falta de liderança.
Então e a instabilidade gerada pelas ingerências no HDES, com demissões em bloco de profissionais de saúde?
Então e a instabilidade gerada pelos acordos rasgados? Não foi no século passado, nem foi na Venezuela. Foi no mês passado nos Açores.
Então e a instabilidade gerada pela degradação financeira do Governo Regional e do Setor Público Empresarial? O Governo decide, promete e não paga. Acumula dívidas às classes profissionais, às instituições e aos fornecedores.
Se, como os monarcas, Bolieiro procura um cognome, sugere-se humilde e respeitosamente que alargue e aperfeiçoe a busca para longe de “referencial” e de “estabilidade”.