E quem não sabe que aquela opção de cortar caminho nem sempre dá o melhor resultado? Arriscamo-nos a que tudo suceda por um simples golpe de asa, como uma espécie de jogo da roleta à qual entregamos o nosso destino exclusivamente à sorte. Ou melhor, ao azar, corrijo eu, não tivesse a Lei de Murphy ganho o reconhecimento internacional que hoje tem. E se, em certas coisas da vida, esse risco não se assume como especialmente danoso caso o pior aconteça, outras há em que o desastre, a ocorrer, se poderá revelar verdadeiramente devastador. Uma só bala no revolver, e o disparo acontece mesmo.
Ir por aí, em políticas educativas, não é uma escolha com consequências unicamente pessoais. Ir por aí, em políticas educativas, é colocar em risco todo o futuro de um povo. Do suicídio ao genocídio cultural e social.
Cruzando a taxa de abandono escolar precoce da nossa Região Autónoma (que subiu dos 23,2% para os 26,5%) com a taxa de jovens NEET (que desceu dos 17,5% para os 15,1%), algo vai mal pelo reino dos Açores, e não tanto propriamente pelo da Dinamarca.
É porque se o abandono escolar precoce se caracteriza pela taxa de jovens que, entre os 18 e os 24 anos de idade, concluíram com sucesso o 12º ano de escolaridade ou, em alternativa, se encontram em formação, ainda que informal, e se o conceito de jovem NEET é o daquele que, entre os 15 e os 29 anos de idade, não se encontra a estudar, a trabalhar ou em formação, será muito fácil de depreender que o caminho que construímos é o de menos jovens com o 12º ano de escolaridade ou até em formação, e de mais jovens a trabalhar, sabendo-se lá com que idades. O de mais jovens a trabalhar com cada vez menor escolaridade ou formação.
Obviamente o caminho oposto ao preconizado. Parece até que os estou ouvindo, eco propagando-se por tudo o que é passos perdidos do edifício parlamentar… «Minhas senhoras, meus senhores, a Educação é o único verdadeiro elevador social!...». É só não esquecer que, como qualquer elevador que se preze, tanto sobe como desce.
Atentamente, estive eu ouvindo o Senhor Presidente do Conselho Nacional de Educação, o Senhor Professor Doutor Domingos Fernandes, aquando da audição em sede de Comissão de Educação e Ciência da Assembleia da República. Desta feita, o tema era então o Plano de Recuperação das Aprendizagens (pós-covid), denominado de 21/23 Escola +. E ouvindo o pensava: o que por cá acontece é o regozijo governamental por nos encontrarmos a flutuar, de não ir morrendo afogados, digamos assim, enquanto por lá, a preocupação do senhor presidente era o de tentar apurar se as 50 ações traçadas no Plano, parte dos 3 eixos subdivididos em 13 domínios, não seriam demais, dispersando o sistema do foco pretendido, e se afinal estão ou não dando os seus frutos.
Bom, na verdade, não havendo Plano, não nos consumimos com tais preocupações. O ficar parado poderá ser uma brilhante estratégia de inovação pedagógica para que qualquer veículo não se estampe. Um ligeiro problema: é que nem mesmo se a eternidade jogasse por nós, a lado algum chegaríamos.
Está mais do visto que a estratégia é outra. Para o governo açoriano, de muito pouco importará que os alunos mais desfavorecidos tenham sido, afinal, aqueles que mais sofreram as consequências desta pandemia. Números, importam números, ainda que disfarçados da mais conveniente maquilhagem, porque importam eleições, as de 2024, o horizonte mais longínquo da estratégia educativa do atual Governo Regional dos Açores. Os juros disto aguardam-nos.