As lapas dos Açores constituem uma iguaria e podem ser servidas grelhadas e temperadas com um molho, também podem ser confecionadas com arroz, o arroz de lapas, ou ainda o molho Afonso, também um prato irresistível. No entanto as lapas cruas ainda são as favoritas para muitos dos nascidos e criados nestas ilhas.
Mas, de uma maneira ou de outra, as lapas são de facto um dos petiscos mais apreciados nos Açores e quem nos visita também se vai rendendo a este molusco que vive agarrado às rochas das costas das ilhas e que tem a apanha regulamentada.
E a sua regulamentação não foi feita por acaso. Foi exatamente para preservar este recurso importante para a gastronomia local e garantir a sustentabilidade da sua extração.
Nesse processo, como não podia deixar de ser, foram criados períodos de defeso, nos quais fica interdita a sua captura, tal como foram criadas reservas precisamente para a gestão de capturas em todas as ilhas dos Açores.
É neste contexto legislativo que o responsável pela área das pescas nos Açores, assim de repente, resolve criar uma exceção no período do Espírito Santo, através de um despacho, para apenas três ilhas (Faial, Pico e S. Jorge) das nove que constituem o arquipélago dos Açores, sem, mais uma vez, consultar os parceiros sociais e a comunidade científica, com a justificação de que seria tradicional o seu consumo nesta altura.
Esta desculpa é uma enormidade do tamanho da incompetência da gestão do mar e das pescas nos Açores. Não pode haver outra maneira de classificar esta medida desequilibrada e sem qualquer justificação, quer científica, quer mesmo política, como foi classificada pelo PSD, o segundo partido mais votado nas últimas eleições.
Já participei em Festas do Espírito Santo em todas as ilhas e nunca vi tal coisa, mesmo nas ilhas que este governo excecionou. Foi um ato que, além de discriminatório, é ilegal e só serviu para defender o interesse de alguns.
Aliás, este governo, ao invés destas manobras incompreensíveis, devia ter-se dedicado mais a emitir as licenças na data certa aos apanhadores porque, ao contrário do que se espera de quem tem responsabilidades governativas, tardou nessa tarefa, o que quer dizer que quem comprou lapas no início da época provavelmente fê-lo ilegalmente sem o saber.
Com este tipo de atuação não há sustentabilidade que resista. Regulamenta-se, mas volta-se atrás na primeira oportunidade. Por este caminho não chegamos a lugar nenhum.