Opinião

Uma Absurda Irresponsabilidade

O passado dia 15 de junho marcou a entrada da governação regional no domínio do ensandecimento coletivo. Será uma data que perdurará na história. Nesse dia, em Angra do Heroísmo, o vice-presidente do governo regional afirmou, na abertura de um seminário sobre Segurança Social, que “após vários meses de reflexão e amadurecimento” irá apresentar uma anteproposta de lei para que “os açorianos, num quadro de justiça e de equidade, possam reformar-se mais cedo”. Artur Lima justifica o seu despautério com o facto de termos “uma esperança média de vida comprovadamente abaixo da média nacional em cerca de dois anos e sete meses”. Os sistemas públicos de segurança social são das maiores conquistas civilizacionais dos Estados contemporâneos. Representam um contrato social interclassista e intergeracional assente no paradigma da solidariedade. Riscos e responsabilidades são partilhados com o objetivo de conferir dignidade, justiça e segurança aos cidadãos perante os infortúnios e os azares da vida, bem como a merecida pensão de reforma após a aposentação. Ninguém com o mínimo de sentido de Estado imaginaria a infame proposta apresentada por Artur Lima. O verdadeiro desafio que o governo deveria abraçar seria criar condições para que nos Açores se viva o mesmo, ou mais, que esperança média de vida nacional. A Artur Lima pouco importa que a Região perca a face quando invocar a solidariedade perante a República ou a União Europeia. Os seus propósitos são colher a simpatia de uma presumível maioria social e capitalizar o desagrado de um chumbo certo. Entre a responsabilidade e a demagogia Artur Lima prefere a segunda.
A proposta do vice-presidente do governo é uma absurda irresponsabilidade, ultrapassa os mínimos da decência e da dignidade que se exige a qualquer governante. Que o faça com o silêncio cúmplice e comprometedor do presidente do governo torna o assunto ainda mais grave e verdadeiramente inacreditável.