Destino indiscutível de natureza e de experiências, os Açores são 9 pérolas que no meio do Atlântico transbordam beleza e essência, (ou pelo menos assim eram até à semana passada).
Agora, e por mera opção do Governo Regional do PSD/CDS/PPM, a ilha das Flores passará a servir de aterro a 1300 toneladas de resíduos, numa solução que, apesar de “excecional”, como querem fazer crer, representa além de um retrocesso, também um grave atentado ambiental, ou não fosse esta uma ilha que desde 2009 é Reserva da Biosfera e, desde 2016, a primeira do arquipélago a atingir o objetivo de “Aterro Zero”, numa valorização da totalidade dos resíduos urbanos.
É por tudo isto que não podemos compreender, e muito menos aceitar, que esta seja a melhor solução para uma ilha que está a ser “vendida” enquanto destino sustentável.
Terá o Governo Regional procurado outras alternativas que não esta? Terá esgotado todas as alternativas? Será que se fosse na ilha vizinha, o Corvo, o Governo teria optado pela mesma solução? Julgo que não, que nesse caso outras vozes se levantariam.
A necessidade de encontrar uma solução tornou-se urgente, face à sobrelotação do Centro de Processamento de Resíduos, resultante da incapacidade deste governo em agir adequada e atempadamente. Agora apresentam uma solução, mas sem que a mesma esteja articulada entre os membros do Governo. Neste caso, tivemos, num dia, José Manuel Bolieiro a afirmar que a operação vai decorrer o mais rapidamente possível e com o aterro das 1300 toneladas de resíduos, e no outro, um Secretário Regional a admitir tomar uma decisão em articulação com os Presidentes de Junta de Freguesia, das Câmaras Municipais, membros do Conselho de Ilha e de Associações não Governamentais.
É evidente que este não é o caminho. Não podemos continuar embrenhados na falta de coerência, de rumo e de estratégia na qual este Governo Regional nos tem vindo a conduzir. Não podemos continuar a retroceder em fatores fundamentais e que levaram tempo a alcançar.
A ilha das Flores continua a ser um destino sustentável, mas irá ter, a partir de agora, 1300 toneladas de lixo aterradas. E em que termos? Serão ouvidas as preocupações das Associações Ambientalistas? Serão respeitadas estas preocupações? Nós continuaremos como até então, num trabalho de fiscalização e de defesa das nossas ilhas.
Os Açores não podem fazer deste o seu novo cartão de visita. Não será esta, de todo, a imagem que queremos transmitir, nem aos Açorianos (e, em particular, aos Florentinos), nem a quem nos visita, sendo esta uma realidade que desejamos não se venha a repetir em nenhuma das nossas outras ilhas.
(Crónica escrita para a rádio)