Opinião

Centro Histórico de Ponta Delgada: movimento de desertificação em curso

O centro histórico de Ponta Delgada, lamentavelmente, encontra-se num avançado estado de desertificação, está escuro, socialmente frio, desagradável, inseguro, triste e impróprio para pessoas com mobilidade reduzida. Temos um centro sem a alegria de outrora, sem as nossas gentes, sem a transmissão de saberes e tradições, é também uma parte importante da nossa História que está irremediavelmente perdida.

Encerrar a circulação automóvel no centro histórico da cidade, uma medida inicialmente provisória e que Pedro Nascimento Cabral tornou definitiva, desde 9 de dezembro de 2021, não teve o mérito de abrir a cidade às pessoas, mas, como é óbvio, numa cidade com a dimensão e características de Ponta Delgada, afastou as pessoas. Foi uma decisão unilateral, errada e atabalhoada, sem ouvir a opinião dos interessados: comerciantes e munícipes.

O Presidente da Autarquia ignorou um abaixo-assinado subscrito por 50 comerciantes e uma petição com mais de 1200 signatários, que foi levada a votação na Assembleia Municipal e teve o esperado e lastimável chumbo da bancada municipal do PSD.

Entretanto, Pedro Nascimento Cabral lançou um concurso de ideias, em parceria com a Ordem dos Arquitetos, para a requalificação do centro histórico da cidade, sendo que, para pasmo de todos, foi abandonado porque, alegadamente, nenhuma das propostas apresentadas cumpria com os critérios de qualidade exigidos.

Resolveu então o Edil, inesperada e inexplicavelmente, iniciar a obra de requalificação, por sua conta e risco, sem apresentação e discussão pública do projeto, afastando, mais uma vez, comerciantes e munícipes.

E, naturalmente, os primeiros lesados foram, sem dúvida, os comerciantes, dia após dia, penalizados na liquidez dos seus negócios, com o inevitável encerramento de algumas lojas, seguindo-se os proprietários dos prédios e a população em geral, porquanto, um centro abandonado tem como consequência lógica a degradação do seu edificado, o decréscimo do nível de vida e ao aumento da insegurança e criminalidade.

Este é o - pesaroso - centro histórico que Pedro Nascimento Cabral entendeu brindar os pontadelgadenses e quem nos visita.

Tudo isto com o silêncio e atitude pactuante do Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, Mário Fortuna, que, inesperadamente, se colocou ao lado do Autarca de Ponta Delgada.

É, pois, necessário (re) pensar o centro histórico de Ponta Delgada como um núcleo de interconectividade de pessoas, transformá-lo numa rede social da realidade, com vida, transportes públicos eficientes (amigos do ambiente e gratuitos), acessível a todos/as, com atividades comerciais e culturais eficazes.

Há que reinventar o convívio no centro da cidade!

Tornou-se premente repor a atratividade do centro da cidade, chamando novas lojas comerciais, empresas e residentes, investindo em espaços públicos de qualidade, desenvolvendo a mobilidade suave e um verdadeiro plano de estacionamento. São necessárias medidas estruturais, sistémicas e com visão estratégica.

É imprescindível que sejam desencadeadas políticas de planeamento, implementação de respostas sólidas e eficazes para revigorar a atratividade do nosso centro, no sentido de o transformar num verdadeiro polo de conexão de pessoas e vida cívica, permitindo um novo dinamismo socioeconómico em Ponta Delgada.

A não confessada guerrilha partidária entre o Presidente da Autarquia, Pedro Nascimento Cabral e o Presidente do Governo Regional, José Manuel Bolieiro, resultou num efetivo retrocesso socioeconómico do concelho de Ponta Delgada, retrocesso este que, aliás, se verifica em todos os Açores… Não lhes interessa pensar no futuro coletivo da Região. Nascimento Cabral está focado em ocupar o lugar de Presidente do Governo Regional e Bolieiro está numa permanente luta fatídica para não perder o poder, enquanto isto, estamos à deriva e (des) governados por partidos com ínfima expressão eleitoral.