Opinião

A Taxa de trás-anteontem

Um comerciante a propor a criação de uma taxa é um acontecimento quase tão surpreendente como um abstémio declarado pedir uma bagaceira velha Valle Pradinhos após a refeição ou um fadista de pura cepa dançar quizomba numa qualquer verbena de freguesia.
Sendo fenómenos estranhos, ainda assim, são possíveis de presenciar com maior frequência na época estival com o aumento da temperatura e a maior disponibilidade para o ócio.
No entanto, a proposta da CCAH de criar uma taxa regional de 25€, cobrada à entrada na região a não residentes, não configura um epifenómeno do Verão ou dasilly season.
Ao contrário do abstémio e do fadista para quem o Valle Pradinhos e a quizomba são um simples gracejo que contrasta com seu comportamento habitual, os comerciantes de Angra do Heroísmo ou, pelo menos, quem os representa (inclino-me mais para esta segunda hipótese considerando que apenas 27 pessoas subscreveram a petição da CCAH e esta tem um número superior de associados) têm uma fixação, quase patológica, com a criação de uma taxa a pagar por não residentes, como se taxa no olho do turista para o comerciante fosse refresco!
Veja-se o contraditório historial: (i) Em janeiro de 2022, a CCAH, autointitulando-se de pioneira, propõe aos municípios da Terceira uma taxa turística municipal de 1€ para financiar o "chapéu" Explore Terceira, na volta, apanhou bonés; (ii) Uns meses depois dá parecer negativo à taxa turística de 1€ do PAN porque considera que "não faz qualquer sentido a matéria ser regulada a nível regional, bastando a sua aprovação a nível municipal";(iii)Trás-anteontem propõe a criação a nível regional de uma taxa de 25€, cuja diferença em relação à do PAN é apenas no valor, onde se propunha uma taxinha agora propõe-se uma taxona!
Menos mal que para distribuir atestados de moralidade e legalidade no espaço público a única moral necessária é a relativa ao ânimo e à disposição.