Num dos seus temas mais conhecidos, Leonard Cohen, sobre um ritmo euro-disco carregado de sintetizadores que cria uma ambiência sonora pós-apocalíptica, canta o famoso verso “they sentenced me to 20 years of boredom” [“eles sentenciaram-me a 20 anos de tédio”], que integra a estrofe do icónico refrão “first we take Manhattan, then we take Berlin” [“primeiro tomamos Manhattan, depois tomamos Berlim”].
O ambiente no espaço público Regional está longe de ser apocalíptico e, por maioria de razão, pós-apocalíptico, apesar da pele fina de alguns dos senhores do poder, totalmente desprovidos de capacidade de encaixe, originar, de quando em vez, pequenas “jiades” de vão de escada, necessariamente fátuas pela sua insignificância, no entanto, aqueles versos de Cohen têm-me vindo à memória ao consultar a BEPA e o Jornal Oficial.
Depois de 20 anos de oposição, que para muitos foi de tédio, e uma vez tomado o Governo Regional, a poderosa Manhattan, chegou a hora de, em vésperas do último orçamento do (des)governo, tomar a burocrática Berlim, ou seja, a Administração Pública Regional.
Em relação ao fervilhar da BEPA, porque estão subjacentes procedimentos concursais, não vou tecer qualquer comentário, pois, em tese, ninguém deve ser impedido de concorrer e, sendo o procedimento justo, deve ficar quem tem de ficar. Como as listas são públicas vão ver quem ficou e fim da história.
Já no Jornal Oficial, triste literatura, a coisa tem sido mais requintada, veja-se, a título de exemplo, o DRR n.º 27/2023/A, que altera o quadro de pessoal dirigente da SRAAC, através do qual o Diretor do Serviço de Ambiente de Ilha, que antes eram um cargo de direção intermédia de 2.º grau, cujo provimento exigia um procedimento concursal prévio, passa a cargo de direção específica de 1.º grau, cuja nomeação depende, apenas e só, de uma decisão política, ou seja, substitui-se um critério de seleção técnico por um critério de seleção político.
Há que tomar Berlim mesmo que isso custe Manhattan, o que naturalmente tem criado mau ambiente na coligação.
