O quadro político nos Açores alterou-se profundamente em menos de três semanas.
A crise política que se precipitou nos Açores é uma crise anunciada e é da inteira responsabilidade do governo de coligação. Para quem tiver dúvidas sobre essa responsabilidade, basta ouvir os argumentos dos ex-parceiros do governo para justificar o rompimento dos acordos de apoio parlamentar. Termos como “incumprimento da parte do governo”, “quebra da palavra dada” e “desrespeito pelo acordado” esclarecem cabalmente a responsabilidade do governo na presente crise.
Na campanha eleitoral já em curso é possível constatar dois elementos discursivos salientes da parte dos partidos que apoiam o governo. O primeiro é a vitimização do próprio governo e o segundo é a culpabilização pela atual crise, que por incrível que pareça tem como alvo sobretudo o PS.
O objetivo dessas narrativas é fazer esquecer que a Região vive uma crise devido a uma governação incapaz e incompetente que perdeu mais tempo a tentar manter a coligação de pé do que a enfrentar os desafios da governação. Foi o Dr. Bolieiro mais os seus ex-críticos transformados em apoiantes à pressa que engendraram uma solução nas costas dos eleitores que nunca deu garantias de poder prevalecer.
Aliás, o ato de finados da atual coligação é absolutamente esclarecedor. Primeiro chantagearam os seus ex-parceiros afirmando que seria “irresponsável” votar contra o orçamento. De seguida afirmaram que apresentariam um segundo orçamento “para cumprir a lei”. E por fim a ópera de sabão em que se transformou a decisão do PR de dissolver a Assembleia, com o Presidente do governo sempre a reboque dos acontecimentos e a chegar ao ponto de afirmar que “apoiava” a decisão de Marcelo Rebelo de Sousa. Parece não haver limites para o despautério.
O Dr. Bolieiro e os seus amigos de ocasião não estão apenas a tentar impor uma narrativa que reescreva a história da atual crise política regional. Estão sobretudo, tal como os populistas, a procurar impor uma insidiosa verdade alternativa.