Nos últimos anos, temos testemunhado um aumento significativo no apoio e na popularidade de partidos e movimentos de extrema-direita em vários países europeus. Este fenómeno tem levantado preocupações em relação ao populismo político, à xenofobia e ao nacionalismo exacerbado. Os partidos de extrema-direita têm a tendência em focar as suas ideias em políticas anti-imigração, euroceticismo e num discurso populista e demagógico que apela às frustrações e às ansiedades da população. O uso das redes sociais e a divulgação de fake news também têm contribuído para a disseminação das suas ideias.
O Brexit no Reino Unido, a ascensão da Frente Nacional na França e o surgimento de partidos como ‘Alternativa para a Alemanha’ são alguns exemplos desse crescimento. Na Finlândia estão no governo de coligação, na Suécia apoiam o executivo no parlamento, em Itália chefiam o governo e nos Países Baixos têm o maior grupo parlamentar.
Em Portugal, tem sido um fenómeno relativamente recente, se compararmos com outros países europeus, contudo o crescimento tem sido avassalador. A referência é o partido CHEGA, liderado por André Ventura, que tem adotado uma postura populista e nacionalista, defendendo políticas anti-imigração e anti-sistema, demonstrando preocupação com a segurança pública e o descontentamento com a classe política tradicional. Pode-se caraterizar a sua atuação por um constante ‘oportunismo político’, onde as convicções são flexíveis e adaptadas conforme a conveniência.
O CHEGA obteve representação parlamentar, pela primeira vez, nas eleições legislativas de 2019, com 1 deputado eleito, marcando a entrada formal da extrema-direita no parlamento português. Em 2022 subiu para 12 deputados. No passado dia 10 de março, atingiu o impressionante registo de 48 deputados… é um fenómeno recente que conseguiu atrair mais de um milhão de eleitores em Portugal. Há várias razões para sua rápida ascensão e uma delas, certamente, é a cobertura significativa que recebeu por parte da comunicação social.
A sociedade portuguesa tem uma história de moderação política e um forte compromisso com os valores democráticos, o que tem atuado como um contrapeso ao crescimento radical desses movimentos, no entanto o dia 10 de março marcou uma mudança radical na realidade política de Portugal. Veio colocar em causa todo este histórico, representando um desafio para a coesão social e política do país e exigindo um compromisso ativo da sociedade civil, dos partidos políticos e das instituições democráticas para promover a liberdade, a tolerância, o diálogo e o respeito à diversidade.
A poucas semanas de comemorarmos 50 anos do ’25 de Abril’, é fundamental refletir sobre os sacrifícios daqueles que lutaram pela liberdade, valorizar as conquistas alcançadas e reafirmar o compromisso com os princípios da democracia, da justiça social e dos direitos humanos. É também uma ocasião para se reconhecer que a democracia é um processo contínuo, que requer vigilância, participação cívica e respeito mútuo. Estejamos atentos!