Numa era marcada pela influência das redes sociais, testemunhamos uma mudança significativa na forma como os políticos são percebidos e avaliados. Mais do que nunca, o alcance e o impacto nas plataformas digitais parecem superar a importância das políticas efetivas no julgamento público.
A ascensão das redes sociais transformou a política num espetáculo de popularidade, onde a visibilidade e a capacidade de criar uma narrativa cativante frequentemente se sobrepõem à substância das propostas políticas. Os mais habilidosos nesta arte parecem conquistar uma base de seguidores leais, mesmo que as suas políticas careçam de profundidade ou coerência.
Essa tendência é mais um fator para a polarização e simplificação do debate político. Há uma clara compensação por discursos incendiários e extremistas em detrimento de abordagens mais ponderadas e colaborativas. Isso pode levar a uma erosão do diálogo democrático e dificultar a procura por soluções pragmáticas e consensuais.
Além disso, a valorização do alcance nas redes sociais sobre as políticas substanciais pode minar a qualidade da governação. Os políticos começam a focar-se mais na autopromoção e na gestão da sua imagem do que na elaboração e implementação de políticas eficazes que atendam às necessidades reais dos cidadãos.
Apesar disso, é importante reconhecer que as redes sociais também oferecem uma oportunidade única para o estímulo à participação democrática, usando essas plataformas para se fomentar o contato com os eleitores, partilhar informações e receber feedback em tempo real. Portanto, a chave parece-me estar em se encontrar um equilíbrio entre o uso construtivo das redes sociais e a manutenção do foco na substância e na integridade das propostas.
É crucial manter um olhar crítico e exigente sobre os líderes políticos, garantindo que eles sejam avaliados não apenas pela popularidade online, mas principalmente pela qualidade e pelo impacto de suas ações políticas.
(Crónica escrita para Rádio)