Enquanto o relógio avançava impiedosamente, os corredores da Assembleia ecoavam com murmúrios de incerteza. Num cenário de intriga e negociações nos bastidores, a eleição da mesa da Assembleia da República transformou-se num drama com Deputados desesperando à volta de um conteúdo vazio de consenso.
Os líderes partidários, com a retórica normal, tentando decifrar um enigma aparentemente difícil lançaram as propostas, definiram bem as linhas vermelhas, mas o impasse persistia.
Enquanto isso acontecia, esperava-se com crescente inquietação por um desfecho que parecia distante. Estas circunstâncias realçavam o risco de uma assembleia dividida, e faziam crescer as dúvidas sobre o futuro da governação. Com este cenário político é a incerteza que vence.
Ontem, a cada hora que passava, a tensão aumentava e a confiança na classe política diminuía, mesmo que este tenha sido o resultado da legítima escolha popular.
À hora que gravo esta crónica, não é conhecido o novo Presidente da Assembleia, mas fica claro que esta circunstância se tornou maior do que uma simples formalidade política. É um teste de habilidade, paciência e, acima de tudo, vontade de compromisso. Resta saber se os políticos que agora nos governarão serão capazes de manter a palavra dada e de superar as circunstâncias que o quadro político atual nos traz.
Entretanto, parece-me que o espetáculo vai continuar, com o destino da governação pendurado num equilíbrio incerto.
(Crónica escrita para Rádio)