À medida que Portugal se prepara para celebrar os cinquenta anos da Revolução dos Cravos, uma sombra ameaçadora surge sobre as conquistas culturais e sociais alcançadas desde então. Movimentos da direita conservadora, aproveitando-se claramente da recente vitória eleitoral, tentam minar os avanços que tanto custaram a ser conquistados, não só no que diz respeito ao papel da mulher na sociedade, mas também à própria liberdade individual de cada um.
Confesso que para mim é uma contradição perturbadora que, enquanto nos preparamos para comemorar a libertação de um povo, nos encontremos confrontados com ideias retrógradas que procuram revogar todos os progressos que a democracia nos trouxe.
A recente publicação promovida por esses setores conservadores, e pelo que vai sendo tornado público, tenta questionar não apenas os direitos alcançados pelas mulheres ou pelas minorias, mas também os avanços culturais que moldaram a identidade nacional nos últimos cinquenta anos.
Enganam-se aqueles que acham que isto não tem um propósito. Este deve ser um momento de reflexão sobre as conquistas democráticas do nosso país, não um pretexto para colocar tudo em causa.
Esta tentativa de retaliação do conservadorismo aos avanços da sociedade não pode ser ignorada. Devemos permanecer vigilantes e unidos para resistir a estas tentativas de retrocesso.
A celebração dos cinquenta anos da nossa liberdade deve servir de lembrete permanente do compromisso com os valores democráticos, com a inclusão e o respeito, com os direitos humanos e também com liberdade individual de cada português.
Devemos continuar a lutar pela igualdade, pela justiça e pelo avanço cultural, honrando o legado da Revolução e defendendo os princípios pelos quais tantos corajosamente lutaram.
(Crónica escrita para Rádio)