Opinião

Um novo ciclo para um novo futuro

I
Uma das grandes tragédias do nosso tempo prende-se, justamente, com aquilo que o escritor alemão Gottfried von Herder designou como “espírito do tempo” (Zeitgeist). Este conceito pretendia identificar um conjunto de comportamentos e influências que, de um modo geral, definiriam o “espírito” de uma determinada época. Sucede, porém, que o “espírito” do nosso tempo ou não pode ser reduzido de uma forma tão simples ou, sendo, tenderá a ser marcado pela incerteza, pela insegurança e, claro, também pela indefinição.
Apenas no primeiro quartel de vida que leva este século, já levamos com uma crise do subprime, uma crise das dívidas soberanas, uma pandemia global, uma crise inflacionista de largo espetro, vários conflitos regionais, a guerra na Ucrânia, o escalar do conflito israelo-palestiniano, sem esquecer a tragédia dos refugiados que afeta milhões de pessoas. Como facilmente se depreende, o espírito da época (o famoso Zeitgeist) não estará lá muito favorecido, sobretudo se também não esquecermos o recuo das democracias liberais que, pela primeira vez em muitos anos, existem em menor número do que os regimes autocráticos.


II
É, por isso, também que ganham maior relevo os projetos políticos que, alicerçados nos valores inegociáveis da democracia e da liberdade, procuram oferecer um futuro melhor, capaz de devolver esperança e confiança, num contexto pesado e difícil. Este fim de semana, o PS-Açores realiza o seu XIX Congresso Regional. Sob o mote, “Um novo futuro”, os socialistas açorianos iniciam um novo ciclo político com a liderança do Francisco César. Faço, desde logo, uma declaração de interesses: conheço e sou amigo do Francisco César há mais de 30 anos. Sei bem, por isso, que num momento desafiante, em que são maiores as dificuldades do que as facilidades, em que no horizonte político imediato avulta a tempestade e não a bonança, seria mais fácil e confortável o Francisco remeter-se ao intenso trabalho que desenvolve na Assembleia da República. Acontece, porém, que os socialistas não viram a cara à luta, não desesperam face às contrariedades e, mesmo perante uma pequena, mas ruidosa turba do que hoje se convencionou chamar haters, ele se predispôs - e a meu ver muito bem - a superar as circunstâncias do Zeitgeist, em nome e na defesa de um projeto político que ofereça um novo futuro aos Açores e aos Açorianos. Mais do que um serviço que presta ao PS/Açores e aos socialistas açorianos, é, sobretudo, um ato de coragem e de amor à nossa terra que o faz avançar por um projeto político que ofereça uma verdadeira alternativa e um novo Futuro para os Açores.


III
Já mais em linha com o “espírito da época”, a decisão recentemente anunciada pelo Governo da República de alterar o subsídio social de mobilidade não é surpreendente. Ao invés de introduzir melhorias (necessárias, por sinal) a um modelo que, na verdade, foi o que melhor serviu a mobilidade dos açorianos, o Governo da República lá esclareceu que a decisão visa expurgar de possíveis fraudes e abusos o modelo anteriormente em vigor. Sem prejuízo de ser indispensável a introdução de melhorias para limitar abusos e combater as fraudes existentes, a atual direita portuguesa - e já agora açoriana - usa sempre o mesmo diapasão: castigar, reprimir e limitar o que considera serem benefícios excessivos. É assim nos apoios sociais, é assim na educação, na saúde e, como se vê, assim é também no subsídio social de mobilidade.

IV
Por último, uma democracia só se fortalece se aqueles que nela participam tiverem acesso a informação fidedigna e esclarecedora. Foi com este propósito que, esta semana, enderecei três questões escritas à Comissão Europeia sobre o Grupo SATA, por forma a esclarecer qual a avaliação que faz do cumprimento do Plano de Reestruturação e se está ou não disponível para prorrogar o prazo para a alienação de parte do capital da Azores Airlines. Em breve, darei conta das respostas.