Opinião

A confirmação das políticas de pensamento pequeno

Em dezembro de 2022, expressei a minha preocupação sobre a eficácia da medida de apoio financeiro de 1.500 euros por criança nascida nos Açores. Na altura, argumentei que esta medida, apesar de parecer bem-intencionada, era uma medida de quem tinha pensamento pequeno e não seria suficiente para combater o problema demográfico da Região. Hoje, quase dois anos depois, os dados divulgados pelo INE vêm confirmar que as minhas preocupações estavam certas.

Segundo o relatório mais recente, a natalidade nos Açores diminuiu em 1,3% no último ano, ao contrário do que se verificou na maioria das regiões do país, com destaque para o Algarve com +9,2% e Setúbal com +6,3%. Esta redução dos nascimentos nos Açores, mesmo após a implementação da medida e de algumas alterações, evidencia que o incentivo financeiro isolado não é a solução para o problema.

A minha análise em 2022 focava-se na necessidade de se criar condições estruturais para os jovens formarem famílias: emprego estável, acesso a habitação e a implementação de políticas que verdadeiramente coloquem as pessoas no centro das prioridades. A realidade mostrou que sem estas bases, a simples atribuição de subsídios não consegue reverter a tendência de declínio demográfico.

Além disso, a limitação do apoio a um segmento restrito da população torna a medida não só ineficaz, mas também discriminatória. A diminuição da natalidade nos Açores, em contraste com o aumento noutras regiões, deve ser um alerta para a necessidade de se reavaliar as políticas implementadas e adotar estratégias mais abrangentes e inclusivas.

Este é o momento para reconhecer que a solução para o desafio demográfico não passa apenas por medidas financeiras, mas por uma reorganização profunda das prioridades sociais e económicas.

 

(Crónica escrita para Rádio)