Estava bem longe de imaginar que o tema eleito para esta crónica, volvidos que estão quase cinco anos desde o dia em que, por opção própria, me demiti da administração da Associação para o Desenvolvimento e Formação do Mar dos Açores (ADFMA), responsável pela Escola do Mar dos Açores, fosse ainda hoje assunto para ocupar este cantinho, que tanto prezo, neste jornal que tão bem me acolhe. Mas, infelizmente, porque uma mentira – ainda que repetida até à exaustão - não pode nunca ser proferida como verdade, considerando a insistência dos “pseudo-especialistas” que, mesmo desconhecendo o assunto, insistem em discorrer sobre o mesmo, importa tanto hoje, como ontem, e todas as vezes que forem necessárias, voltar ao tema.
Corria o ano de 2019 quando me foi lançado o desafio de, num trabalho conjunto, conduzir o projeto da Escola do Mar dos Açores. Aceitei-o de forma consciente, responsável, com espírito de missão e, acima de tudo, com uma enorme vontade de vencer. Desde a primeira hora em que recebi esta herança que a acarinhei, que por ela lutei, que a interiorizei como sendo minha, que, acima de tudo, a honrei!
Se é certo que nem tudo correu de feição, certo e inquestionável é que muito trabalho foi feito: constituímos a ADFMA, tendo como sócios fundadores a CMH, a UAC, a Escola Náutica Infante D. Henrique - ESNIDH e o GRA; contratamos uma equipa de topo, à margem de qualquer tipo de compadrio, com base num concurso de recrutamento tornado público e devidamente anunciado, do qual resultou um grupo de trabalho de elevada competência, extremamente dedicado, profissional e de uma capacidade técnica invejável; equipamos aquele edificado ao mais alto nível daquilo que se faz no mundo; participamos num Projeto Europeu com o intuito primeiro de estabelecermos parcerias e sinergias no âmbito da Economia Azul; gerimos o nosso orçamento (maioritariamente público) ao cêntimo, com rigor, com total transparência, numa lógica de gestão assente na racionalização de custos e investimentos.
Concebemos os dossiers necessários para procedermos à certificação deste novo estabelecimento de ensino e formação (coincidentemente os mesmo que serviram de base ao trabalho de quem se seguiu!), que, pela sua abrangência, carecia de pelo menos quatro certificações diferentes; demos início a este processo complexo de certificação, que em boa verdade nos permitiu identificar algumas lacunas no edificado, cuja resolução, nalguns casos, já havia sido principiada.
Nem todo o percurso foi fácil, é certo! A um momento de luto do mais doloroso que alguma vez vivi seguiu-se a Pandemia Covid 19, e, desta junção infeliz, acrescida de alguma impaciência, resultou o meu pedido de demissão deste projeto. Ainda assim, numa análise retrospetiva, a certeza é apenas a de que faria tudo exatamente igual, ou sempre que possível, mais e melhor, em prol de um projeto que todos ansiamos, desde o seu início, ver vencer!
Após a minha saída, o projeto continuou o seu caminho, desta feita com outros intervenientes, tendo transitado de governo após as eleições de outubro de 2020, a quem cabe desde então (há quase 5 anos!) a missão de dar continuidade a este projeto de enorme relevância para a nossa ilha.
Mas estas circunstâncias não servem para reescrever a história, e a história da Escola do Mar remonta à governação socialista, à visão do Prof. João Castro, do Dr. Filipe Porteiro, do Dr. Gui Meneses, e de tantos ouros faialenses, e não faialenses, que desde a sua idealização, até à sua conceção, comprovaram que “quando o homem sonha, a obra nasce”.
E é exatamente por todas estas razões e mais, que não me revejo, nem tão pouco permitirei que passem impunes, as declarações que têm vindo, reiteradamente, a público sobre este tema, invariavelmente chamado à colação como arma de arremesso político, com maior enfase a nível local, mas também regional.
Lamentavelmente, na política, tudo cabe para embelezar a oratória, ou florear um qualquer artigo de jornal. Há até quem tenha a capacidade de proferir deliberadamente uma mentira (ou uma inverdade – dizem que soa melhor!), olhando nos olhos do outro sem pestanejar, ou teclando, sem qualquer decoro, com enorme convicção e maior sarcasmo! Quem sabe um dia também eu consiga ser capaz de tamanha proeza. Por ora, garantidamente que não.
Tantas vezes ouvimos dizer que “em política, não vale tudo!”, e fora dela também não! Mas isto não podem ser apenas chavões inconsequentes, mas sim a prática corrente daqueles que têm a obrigação de falar a verdade, de questionar em caso de dúvida, de não se deixarem levar pela corrente populista de quem apenas sobrevive, pela sofreguidão de mal dizer.
Quanto ao demais, eu sou, orgulhosamente, filha de boa gente!