Opinião

Um paliativo de 75 milhões

A notícia de que o Governo dos Açores conseguiu um reforço de setenta e cinco milhões de euros do Orçamento do Estado para reduzir a dívida, revela uma verdade preocupante. Embora, à primeira vista, este apoio possa parecer um alívio, ele é apenas um paliativo. Na prática, o Governo da República está a dizer ao Governo dos Açores: “tomem este montante e parem de aumentar a dívida”. Esta é uma mensagem que expõe uma crise de confiança e, ao mesmo tempo, a dimensão do descontrolo financeiro nos Açores.

A gestão prudente da dívida pública é essencial para o desenvolvimento sustentável. Quando um Governo tem de recorrer a apoios extraordinários apenas para evitar agravar ainda mais o endividamento, isto não é um sinal de vitória, é um sinal de fragilidade. Pior, o facto de o montante se destinar exclusivamente a aliviar a dívida indica que poderá não haver espaço para investimentos estruturantes na economia açoriana, como em infraestruturas, inovação ou estímulos ao setor privado.

Como disse na semana passada, a dívida pública, usada com estratégia, pode ser uma alavanca para o crescimento, mas quando mal gerida, transforma-se num círculo vicioso de cortes, austeridade e falta de perspetivas. Os Açores precisam de uma visão clara e de coragem para enfrentar este problema, não de soluções temporárias que apenas empurram o problema para o futuro. Este sim é o pior compromisso geracional que se pode dar.

Se não reconhecermos a gravidade deste cenário, arriscamo-nos a viver num ciclo de estagnação que asfixia tanto a economia quanto o desenvolvimento social. É tempo de exigir mais: transparência, planeamento e, sobretudo, responsabilidade. Setenta e cinco milhões de euros para estancar um problema não resolve a sua raiz. E esse é o verdadeiro perigo.

 

(Crónica escrita para Rádio)