Opinião

O que aí vem

Biden fez o seu discurso de despedida. A verdade é que foi, malgré tout, um discurso de esperança na autorregeneração do sistema democrático americano, e na sua capacidade de resistir aos desafios que se antevêem. Mas com avisos, de uma enorme frontalidade: a democracia, nos EUA e no mundo, vai ter de neutralizar a oligarquia tecnológica, que quer dominar o Mundo, com orçamentos já superiores a muitos Estados, pagando impostos risíveis e manipulando a verdade ao nível global; promovendo o algoritmo do escândalo e da provocação, e onde á verdade, bem-comportada e pouco excitante, perde irremediavelmente a guerra dos "likes" ...  Biden sublinhou também a necessidade de preservar a mediação qualificada e os poderes independentes, de que o respeito pelos Tribunais e pela imprensa são disso paradigmático exemplo.
E disse ainda: "Hoje, uma oligarquia está a ganhar forma na América, de extrema riqueza, poder e influência, que ameaça literalmente toda a nossa Democracia, os nossos direitos e liberdades básicas e uma hipótese justa para todos progredirem".
Conhecemos  os perigos que aí vêm: o renascimento do populismo, que vai tentar reinterpretar a democracia à sua maneira; o enfraquecimento, se não a morte da verdade, face ao sucesso e popularidade dos "provocadores"; o recrudescimento do primarismo emocional, da polarização e do discurso divisivo - com o ataque à verdade não se detendo à porta da ciência, antes ladrando atrevidamente negacionismos, seja, por exemplo, ao nível das alterações climáticas ou das vacinas, num objetivo premeditado de luta contra o conhecimento, em prol da manipulação.
Este é o decisivo tempo em que o jogo sujo dos inimigos das sociedades abertas parece estar a resultar. Há, pois, que recuperar a força da verdade e a superioridade dos valores!