Opinião

Inexplicável

A A Romanti Cultura promoveu no Grand Hotel Açores Atlântico, em Ponta Delgada, uma conversa para debater o turismo cultural, nomeadamente, sobre o papel que a Cultura e as Artes podem ter no contributo para um destino turístico de valor acrescentado.
As conversas nunca são demais, e no caso da cultura, são raras e acabam, na maioria das vezes, por gerar mais perguntas que respostas. Neste dia, o painel foi consensual ao admitir que um dos maiores desafios a ultrapassar residia na escassez do investimento em comunicação, ou de que esta seria decisiva para vencer os desafios que se colocam na promoção do turismo cultural, em particular, numa região pequena e dispersa (como os Açores).
Discordo, parcialmente, deste princípio. A comunicação é, obviamente, um eixo central no trabalho das instituições culturais. É um meio, não o seu fim. Caso não exista um produto ou uma oferta qualificada e sistematizada, dificilmente teremos a notoriedade que pretendemos. 
Contudo, destacaria a intervenção final de João Paulo Constância, diretor do Museu Carlos Machado, ao referir a importância de analisar o perfil, a origem e as expectativas dos visitantes internacionais quanto à oferta existente e ao que podemos propor, na certeza que a Cultura surgirá (sempre) num plano complementar à Natureza.
Em dezembro de 2022, o ex-Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, anunciou a iniciativa Capital Portuguesa da Cultura, com um financiamento de 2 milhões de euros (aos quais se somam os orçamentos de cada cidade).
Para além do reconhecimento e do mérito das candidaturas finalistas à Capital Europeia da Cultura em 2027, esta foi, igualmente, uma aposta de futuro, com o intuito de dar continuidade ao trabalho desenvolvido, ao permitir viabilizar, corrigir ou dar resposta a determinados constrangimentos identificados nos processos de  mapeamento cultural realizados por cada cidade/território/região.
Os orçamentos são, naturalmente, distintos, reflectindo o compromisso, a escala e o impacto que cada qual pretende(u) estabelecer: Aveiro 2024, contou com um investimento global de 8 milhões de euros; Braga 2025, anunciou um orçamento de 13,5 milhões e Ponta Delgada investe cerca de 3 milhões, sendo que não é claro, na informação disponível, se este valor já contempla os 2 milhões de financiamento nacional e regional (neste caso o valor orçamental passará para os 5 milhões de euros).
A programação anual das várias capitais portuguesas da cultura, entre 2024 e 2026, culminará com a realização de Évora 2027 – Capital Europeia da Cultura, um processo que tem passado por alguma convulsão, resultando na saída da equipa que liderou o projecto de candidatura, gerando um amplo coro de reações, nacionais e internacionais, na crítica à manifesta interferência política na estrutura de gestão.
Infelizmente, o país tem um histórico conturbado nos modelos de gestão das várias capitais europeias da cultura que já acolheu: Lisboa (1994), Porto (2001), Guimarães (2012) e agora em Évora (2027).
A 25 janeiro arranca o programa de abertura de Braga, Capital Portuguesa da Cultura. Paradoxalmente, à data que escrevo este texto, a equipa executiva de Ponta Delgada 2026 não iniciou, formalmente, as suas funções.
As legítimas expectativas da comunidade criativa e da população, são elevadas. Tivemos ao nosso dispor, todo o tempo necessário para preparar atempadamente este processo. Independentemente dos procedimentos burocráticos a ultrapassar, este compasso de espera é, a todos os níveis, inexplicável.
Por mais importante que seja a comunicação, sem um projecto programático sólido e impactante, entre o risco do que é o novo, e o equilíbrio na transmutação da dimensão local e o confronto com aquilo que nos chega(rá), a nível nacional e internacional, não será uma campanha promocional que nos irá socorrer.
Hoje, já seria tarde.