Renata Correia Botelho apresentou esta quarta-feira à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, em nome do PS/Açores, o seguinte voto de pesar, aprovado por unanimidade, que se transcreve na íntegra:
VOTO DE PESAR
Falecimento de Djuta Ben-David
Nenhuma terra se faz apenas daqueles que ali o destino dita que nasçam. Uma terra faz-se de todas as respirações que ali aportam, de todas as vozes que ali ancoram.
Com a morte de Justina Silva, amplamente conhecida entre nós como Djuta Ben-David, os Açores perderam, no pretérito domingo, uma respiração e uma voz que muito ajudaram a moldar, neste passado recente das nossas ilhas, em especial de São Miguel, as múltiplas tonalidades de que se tece a nossa Cultura.
Nascida no Mindelo, na ilha de São Vicente (Cabo Verde), e dona de uma musicalidade muito especial, cedo iniciou, por via familiar, a sua relação com a música. Desse período e desse precoce despertar para a magia dos sons, diz a própria: “(…) era uma família onde a música estava muito presente. Fui crescendo nesse ambiente e fui evoluindo”. Aos 20 anos rumava a Lisboa, onde, com o irmão, passou a cantar profissionalmente. A vida, entretanto, em meados da década de cinquenta trá-la – para nossa sorte – até São Miguel, ilha onde viveu até ao fim dos seus dias e que, embora da imensidão das saudades de Cabo Verde sempre falasse com grande intensidade, abraçou como se fosse a sua própria terra, aqui deixando, não apenas na comunidade imigrante mas (e sobretudo) na comunidade açoriana em geral, marcas indeléveis.
A energia da sua presença e a doçura da sua voz, trazendo até nós, num registo muito próprio, a ternura quente de referências gigantescas como a de Cesária Évora ou Tito Paris, ajudaram a fazer dos Açores um sítio melhor e mais bonito, quer para aqueles que, vindos de paragens longínquas, escolheram as nossas ilhas para viver, quer para quem aqui nasceu e aqui optou por permanecer. Djuta Ben-David, mesmo para quem não teve a felicidade de com ela privar, a todos transmitia, por onde passava, uma força rara, singular. E constitui, em maiúsculas, pelo respeito e pela admiração que sempre granjeou, um nome obrigatório para a Cultura dos Açores.
“Tudo o que diz saudade está na morna. E esse desespero de que fala a música pode estar relacionado com a saudade.”, disse Djuta Ben-David numa entrevista, em 2009. Talvez seja precisamente esse o substantivo que, com a sua morte, persista: saudade. E que, ao lembrarmos o seu nome, nos chegue ao coração uma bonita morna.
Assim, ao abrigo das disposições regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista propõe à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores a aprovação de um voto de pesar pelo seu falecimento, e que dele dê conhecimento aos seus familiares e à AIPA – Associação dos Imigrantes nos Açores, expressando as nossas mais profundas e sentidas condolências.
Horta, sala das sessões, 17 de junho de 2015
Os Deputados