Renata Correia Botelho apresentou esta quarta-feira à Assembleia Legislativa dos Açores, em nome do PS/Açores, o seguinte voto de congratulação, aprovado por unanimidade, que se transcreve na íntegra:
VOTO DE CONGRATULAÇÃO AO ESCRITOR JOÃO DE MELO
PELA ATRIBUIÇÃO DO PRÉMIO LITERÁRIO VERGÍLIO FERREIRA 2016
“Não posso nem devo disfarçar um sentimento de alegria íntima” – dizia João de Melo ao Diário dos Açores, a propósito do Prémio Vergílio Ferreira que lhe foi este ano tão justamente atribuído. Como ele, não podemos nem devemos disfarçar esse sentimento de alegria que de nós se apodera – apenas um pouco menos íntima do que a sua, porque a todos nós se estende, porque integra a nossa vivência conjunta, porque nos enche de uma honra coletiva.
Instituído pela Universidade de Évora em 1997, o Prémio Vergílio Ferreira pretende reconhecer o conjunto da obra literária de um autor de língua portuguesa que se destaque no género narrativo e/ou ensaístico. A notícia da sua atribuição, este ano, na sua 20ª edição, chegou-nos no passado dia 20 de janeiro, e logo motivou reações públicas de grande contentamento. João de Melo passa a integrar, assim, uma lista de galardoados que conta com nomes cimeiros como os de Maria Judite de Carvalho, Mia Couto, Eduardo Lourenço, Agustina Bessa-Luis, Manuel Gusmão, Vasco Graça Moura ou Hélia Correia – para além, claro está, da notoriedade que se desprende do nome do prémio, numa homenagem a esse autor extraordinário e inesgotável, a esse milagre literário a quem para sempre deveremos obras-primas como Para Sempre, Manhã Submersa ou Aparição.
João de Melo nasceu na Achadinha, em São Miguel, no ano de 1949, tendo rumado a Lisboa no final da década de sessenta, e aí fixado a sua vida – não sem amiúde voltar, quer física e objetivamente, quer no âmbito literário, às suas raízes. Desse regresso mais, por assim dizer, intangível, desse retorno assente na memória, é exemplo um dos seus títulos mais conhecidos, Gente Feliz com Lágrimas, adaptado à televisão em 2002 pelo igualmente incontornável José Medeiros. É dessa forma, por esses vários regressos, que João de Melo faz, no dizer do próprio, “das ilhas um lugar de todo o mundo”.
Já anteriormente galardoado com prémios de grande relevo – como o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores, o Prémio Eça de Queiroz ou o Prémio Fernando Namora – foi agora a vez de o júri do Prémio Vergílio Ferreira, presidido por António Sáez Delgado e que este ano integrou Elisa Esteves, Gustavo Rubim, Carlos Reis e a escritora Lídia Jorge, distinguir a obra de João de Melo, que já em 2016, para nossa sorte, deu à estampa o seu novo título, Os Navios da Noite.
“Se este júri decidiu inscrever-me nesse caminho” – declarava João de Melo à Lusa, numa reação à atribuição do prémio – “pois então, muito bem, fecho-me no meu pequeno universo para olhá-lo um bocadinho para dentro, ver o que é que eu fiz dele e o que ele fez de mim e, em última análise, afirmar que vou, evidentemente, continuar a escrever, a publicar e a estar por aí”.
É assim, precisamente, que o queremos – “a escrever, a publicar e a estar por aí”, olhando o seu e o nosso universo. Devolvendo-nos, com seu olhar literário e pleno de poesia, o mundo, os sítios, as pessoas, as histórias, os afetos… Para que, pela sua pena, nos seja menos solitária a viagem dos dias.
Assim, nos termos regimentais e estatutários aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista propõe que a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores aprove um Voto de Saudação ao escritor João de Melo pela atribuição do Prémio Literário Vergílio Ferreira 2016. Propõe igualmente que deste voto seja dado conhecimento ao próprio e ao Presidente do Júri do Prémio, Professor António Sáez Delgado, da Universidade de Évora.
Horta, Sala das Sessões, 17 de Fevereiro de 2016