"A abstenção tornou-se uma prioridade da ação política do partido socialista nomeadamente desde as últimas eleições", reafirmou André Bradford, líder do Grupo Parlamentar do Partido Socialista. O tema da "abstenção eleitoral" esteve em destaque no Debate Público promovido no âmbito das Jornadas Parlamentares, as primeiras da atual legislatura, que o PS promove na Graciosa.
Recordando que nas últimas eleições realizadas nos Açores a abstenção registou a taxa mais elevada, 59,2%, André Bradford fez notar que "esta é uma tendência que se vem acentuando na Região, também no país e um pouco por toda a Europa". O fenómeno exige "uma reflexão profunda e participada" e não deve ser usado "como arma de arremesso político" já que, no caso dos Açores, "o problema é não só político mas também técnico".
O caso concreto da Graciosa serviu de exemplo para a necessidade de se analisar o problema dessa perspetiva técnica, já que é uma das ilhas em que "há nos cadernos mais eleitores do que população e, portanto, é nítido que há aqui um problema". A nível regional também há outros dados que devem ser tidos em conta: "Há garantidamente cerca de 20 mil eleitores a mais nos cadernos eleitorais, do que o total da população residente, ou seja, se descontarmos aos residentes a população com menos de 18 anos - aqueles que por lei estão impedidos de votar - verificamos que o número restante é inferior ao número total de eleitores". Outra das notas que André Bradford propôs para reflexão está relacionada com os "mais 17 mil e 500 votantes que surgiram de um ato eleitoral para o outro nos Açores", o que não se traduz no aumento real de pessoas a residir no arquipélago.
"Tudo isto demonstra que nós estamos perante um problema que não é só político, é um problema ligado ao sistema eleitoral", afirmou o líder parlamentar dos socialistas. A diferença entre os eleitores residentes e não residentes de longo prazo "pode significar 12 a 15% da taxa de abstenção que nós temos na Região".
Como fez questão de realçar o líder do Grupo Parlamentar do PS, estes factos técnicos não descartam a responsabilidade dos agentes políticos: "Não quero reduzir a responsabilidade política que nós temos, enquanto grupo parlamentar e enquanto partido de responder. Há um problema político e nós estamos decididos a encará-lo e disponíveis para resolver o problema". André Bradford, alerta para o perigo que a abstenção pode representar para a autonomia e para a legitimidade democrática e exorta a sociedade civil a envolver-se já que este "é um problema de todos".
Nesta nova abordagem, o Grupo Parlamentar vai abrir a reflexão à sociedade civil com o objectivo de "aproximar as pessoas da vivência do partido" e simultaneamente ter "uma noção mais concreta dos anseios e das preocupações das pessoas, da forma como refletem sobre as matérias mais relevantes".