Berta Cabral não conhece todo o PSD dos Açores. Ou há um PSD nos Açores que não quer que ela o conheça realmente. A líder anunciou esta semana que, cheio como um ovo, “o PSD/A está todo com Cavaco Silva” porque ele é “o seguro de vida do país”. Há uma parte do PSD dos Açores que tem dúvidas sobre isso. E que tem a certeza que ele é mesmo uma séria ameaça para as regiões. O PSD que não se confessa à líder reclama o voto em branco. Alguns nem o dizem baixinho. Mas, recapitulemos. Porque devem então os açorianos votar em Cavaco e não noutro? Berta tentou explicar as vantagens da reeleição de Cavaco com os argumentos de 2006. Só que se estes na altura já eram pouco convincentes, agora são anedóticos. Cavaco prometeu cooperação estratégica com o Governo que se encarregou de estraçalhar logo no episódio do Estatuto dos Açores em pleno estio. E que foi pouco a pouco destruindo com vetos seguidos às leis que o Governo do PS propôs e que o parlamento aprovou. De cooperante o Presidente da República passou a adversário. Excessivamente colado ao partido de que emana e tático como de costume. O que culminou no tristemente célebre episódio das “escutas” que desfez o que restava da pretensa colaboração. Fez-se anunciar com a solidez do perito em finanças, com capital técnico e político acumulado. No cenário actual invocar este argumento seria anedótico. Pois a sua vasta experiência de nada serviu ao país. Porque não cabe ao Presidente governar, e aquilo a que se assistiu foi o exacto contrário disso. O reavivar da competência técnica para lhe assegurar a reeleição é por isso, agora, apenas um despropósito. E o epíteto de amigo das autonomias, depois da novela do Estatuto, uma graçola atrevida. Que a líder estrategicamente finge ignorar, mas que nem todo o PSD/A, como ela exigiria, defende.