Opinião

Tristeza a quanto obrigas

Depois de Obama o nosso Cavaco entregou-se ao poder das redes sociais. E foi pelo facebook que ficámos a saber da tristeza do Presidente da República Portuguesa. Confessado num post de 4 linhas. Um homem pode assim confessar ao país o seu estado de espírito sem que o acusem de lamechice. Qualquer homem o pode fazer. Até o Presidente. Mas a franqueza vai mais longe. Está “apreensivo com a falta de qualidade dos nossos políticos e a impaciência com que os cidadãos assistem a alguns debates”. Dos quais naturalmente se exclui. Este recado assenta que nem uma luva ao papelão que fez o PSD no processo de construção do Orçamento de Estado. Berrando que este não era o seu orçamento, mas escusando-se sempre a dizer, durante longos penosos dias, qual seria o seu. Os portugueses suspeitam que não diferiria muito. E cansam-se. O que perturba o sossego do nosso Presidente e lhe traz tristeza e perplexidade. Como a qualquer comum dos mortais. Porém, que faça disto uma confissão pública da sua inércia é que já não se percebe. Para não “contribuir para o espectáculo público de cinismo ou de agressividade”. Salvaguardando assim o país de mais um actor de 3ª categoria, o Presidente escolhe ser um figurante. E deixa-se estar “posto em sossego”. Enquanto o país assiste ao início dum período de austeridade de que ninguém arrisca traçar a linha do fim. Não precisa Portugal dos suspiros do Presidente. O ânimo colectivo já lhe chega e sobra. A tristeza que Cavaco atira ao facebook serve afinal a sua perspectiva de reeleição, em que ele, náufrago ilibado dum país de políticos medíocres, se salva. O sebastianismo português fará o resto e a falibilidade da memória encarregar-se-á de validar esta tese. Dando ao candidato uma dimensão de humanidade à prova das balas do actual estado de coisas. Embora ilusório, este é um cenário que lhe é extremamente útil.