Opinião

O que está em causa e quem está connosco

Estamos a abeirar-nos das eleições presidenciais e no momento em que escrevo ainda nada se pode dizer acerca das visitas aos Açores do candidato Manuel Alegre e do candidato Cavaco Silva. O que não fará grande diferença ao sentido de voto dos açorianos dado que estamos perante políticos conhecidos e cujas ideias sobre a Autonomia são públicas – por palavras, por silêncios, por atitudes, por opções. A matéria para debate é abundante, os temas para reflexão têm história – particularmente impressiva quando se fala das Autonomias (e aqui tenho de usar o plural porque Açores e Madeira tiveram Autonomias diferentes com comprovado prejuízo para os Açores quando o candidato Cavaco Silva era primeiro Ministro) e, por mais que alguns queiram branquear o passado, há sempre no presente algo que no-lo recorda. O candidato Cavaco Silva prometeu levar a sua família a Porto Santo se ganhasse as eleições. Extraordinário! Então esta promessa é familiar ou é eleitoral? Afinal, Cavaco Silva quer férias com a família na terra de João Jardim (e que interessa isso ao povo português?) ou quer mostrar mais uma vez ao seu amigo que estará com ele soprem ventos partidários ou fustiguem tempestades políticas? Mas, sempre entrincheirado nas “parábolas” de sentido dúbio para melhor se defender dos seus erros, logo reitera que está ao serviço de Portugal e que a sua experiência é importante num momento de crise. Então conte lá o que tem feito como Presidente da República para atenuar a crise com a sua experiência, Senhor Candidato! Diga, com palavras sonoras e claras o que fez, e não nos remeta para um site que até o senhor parece desconhecer… É óbvio que o site tem respostas que o próprio candidato não teve tempo de aprender. E como a política não é o seu forte (é o candidato quem o afirma, não nós!), mas sim a economia, e como a crise é económica, seria de grande utilidade que desse ao país algumas lições no campo da sua especialidade. Mas nem aí… Ou recebemos um silêncio que não é de ouro mas de desconhecimento do pulsar das nossas ilhas, ou a resposta nº. 1: vá ao site, está lá tudo. Temos, pela primeira vez em Portugal, na história das novas tecnologias, um candidato virtual, que só repete o que é básico e que recomenda o site para as respostas que desconhece. Mais grave ainda: quando vamos ao site, deparamos com uma enorme diferença entre o que está escrito e a atitude real, humana, política, do candidato! O momento é pragmático e o discurso político tem de ser claro e objectivo quanto aos valores que fundam Portugal, a Autonomia, os caminhos do presente, mas também a visão de futuro, o espírito de luta, de sacrifício, a cultura do bem colectivo. Não o individualismo que norteou desde sempre o percurso de Cavaco Silva (lembram-se das suas más recordações do antigo regime? Pessoais e egocêntricas) mas a cultura do bem colectivo, da acção libertadora, dos princípios humanistas que substantivaram a caminhada de Manuel Alegre e não o detiveram nunca perante as dificuldades nem o desconcerto do país. Precisamos de coragem e de alguém que enfrente a Europa com determinação para reconduzir o projecto europeu à coesão social e à solidariedade entre os Estados. Um dos mais eminentes e mais desassombrados sociólogos da actualidade, Boaventura de Sousa Santos, afirma que as dificuldades de Portugal são as dificuldades da Europa. Analisemos passado e presente com serenidade. Compreendamos o que está em causa e quem está connosco!