Perguntaram-me uma vez quais os meus desejos para o Natal passado, ao que respondi, no calor do momento, que ao invés de paz no mundo e saúde (pedidos feitos regularmente) aquilo que pedia para 2011 era que o continente nos deixasse em paz e o Presidente da República particularmente. É óbvio que tal desejo foi expresso mais como uma afirmação de diferença de pedidos (pedir sempre o que todos pedem torna-se redundante) do que propriamente um desejo que eu tenha escrito no e-mail que mandei ao Pai Natal.
De qualquer das formas, para que se cumpra a vontade dos açorianos na definição plena das suas políticas regionais é necessária uma mudança de atitude – especialmente por parte de Belém – para com os açorianos. A recente polémica da remuneração compensatória revelou uma vez mais a visão centralista de desconfiança que o actual Presidente da República tem para com a autonomia açoriana, atitude que já tive oportunidade de criticar em artigos passados.
Apesar de tudo, esta polémica trouxe mais coisas boas do que más: os açorianos puderam distinguir quem é capaz de afrontar Lisboa e defender os interesses dos Açores de quem prefere uma paz podre e submissa, como a sugerida pelo PSD/A; puderam igualmente ver que a medida em causa estava inserida num pacote geral de medidas de compensação pelos efeitos do Plano de Austeridade – nenhuma delas contestada como esta última; puderam também perceber, de forma clara e inequívoca, qual a posição de Cavaco em relação à Região Autónoma dos Açores; e perceberam também que a autonomia serve para quando é necessário usá-la.
No próximo dia 23 de Janeiro decorrerão as eleições para a Presidência da República Portuguesa. E será neste dia, com este acto democrático, que os açorianos contribuirão para a eleição do nosso próximo Chefe de Estado que, espero eu, seja Manuel Alegre. E espero que o seja por diversas razões, sendo que uma delas é precisamente a visão que este histórico do PS tem em relação às autonomias, particularmente a açoriana.
Manuel Alegre apresenta-se como um candidato assertivo, de causas e de uma esquerda unida, motivada para a mudança e para o enfrentar dos tempos difíceis que se avizinham. Alegre não pretende ser um presidente desconfiado – como tem sido Cavaco Silva – nem castrador da autonomia, mas um presidente que entende as particularidades locais e regionais, sentidas e compreendidas na totalidade apenas por quem as vive e, como tal, defende a sua gestão em conformidade com as suas especificidades. Alegre pretende ser um presidente empenhado, pró-activo, não a declaração amorfa de neutralidade a que temos assistimos.
No próximo dia 23 temos a possibilidade de expressar um voto para a eleição de um Presidente da República que olhe para os Açores como a região que merece ser, pela mão de quem nela vive e que nela sabe o que custa viver. Nas próximas eleições presidenciais, votar Alegre é votar Açores.