Hoje em dia, para se iniciar uma pesquisa, nada melhor do que recorrer à internet e colocar um termo ou uma associação de termos, num qualquer “motor de busca”.
Convido-vos a fazer esse exercício associando o nome de Cavaco Silva à palavra Açores. Irão deparar-se com milhares de entradas, mas grosso modo, apenas encontrarão duas temáticas que estruturam a posição do actual Presidente da República em relação à Região Autónoma dos Açores. Por um lado, estão as intervenções centradas na crítica, no poder de veto, na desconfiança política e, por outro, a sobrevalorização quase idílica da dimensão geofísica do território insular, plataforma entre continentes e, sobretudo, lugar de férias.
Desde a polémica em torno do Estatuto Político Administrativo até à recente posição de desconfiança em relação à remuneração compensatória, este presidente, em final de mandato, nunca mostrou considerar os açorianos, valorizar os seus ideais, inclusive quando se trata da história da Autonomia, nem parece compreender, de modo profundo e sincero, o que realmente significa a insularidade e, neste caso, a açorianidade.
Ao contrário, não faltaram os recados e um certo incentivo à criação de uma onda de opiniões e comentários contra os açorianos, recomendando que “melhorassem a qualidade da autonomia em vez de exigirem mais poderes” (2007); “não pusessem em causa os poderes do presidente da república” (2008) nem “hipotecassem a democracia” (2009). Mais recentemente, levantou de novo dúvidas sobre a constitucionalidade da remuneração compensatória, que no seu entender “viola o princípio da equidade”(2010).
Dos açorianos, da autonomia e do desenvolvimento construído de forma consolidada, apesar das dificuldades e dos constrangimentos da insularidade, incluindo, as catástrofes que também marcaram a história recente das nossas ilhas, ninguém ouviu falar! Nem uma palavra de apreço, consideração ou reconhecimento. O mesmo já não se poderá dizer quando se dirigiu aos madeirenses e ao presidente daquela outra região autónoma, como se fosse um exemplo de legalidade e bem-fazer!
A não ser que consideremos reconhecimento a escolha de São Miguel para umas mini-férias, prometidas à família, onde não faltaram reportagens em revistas cor-de-rosa, rodeado dos filhos e dos netos, à volta de um cozido nas Furnas.
Que lugar ocupam os açorianos no pensamento, nas prioridades e, porque não, nos afectos deste presidente que a líder regional do PSD Açores diz ser muito “necessário” ao país?
Não basta dizer que as “particularidades dos Açores devem ser respeitadas”, é preciso conhecer em que consistem essas “particularidades” e compreender o processo de afirmação da autonomia. Quem respeita, não se congratula publicamente com o chumbo do Tribunal Constitucional. Quem reconhece, não lava as mãos, afirmando que “fez tudo o que estava ao seu alcance” e que, acima de tudo, defendeu o superior interesse nacional.
Afinal, o que são os Açores para este presidente, um lugar idílico que se abandona depois de férias? Uma plataforma no meio do Atlântico, bem posicionada em termos estratégicos, que pode servir os interesses nacionais?
A Região Autónoma dos Açores é parte deste país, que em tempos fez do mar o principal caminho para a globalização da cultura portuguesa. E, como tal, merece um presidente que respeite o povo açoriano e honre a história autonómica insular portuguesa.