Portugal chegou ao fim da linha. Entrou no beco do FMI. O estado do país é verdadeiramente grave. Mas como chegámos aqui? A leitura mais primária e linear é a de que a culpa é de quem lá está no momento. E portanto faz por concentrar num homem só a responsabilidade desta hecatombe. Mas é preciso que o nosso raciocínio seja mais elaborado e mais exigente. Somos um país em dificuldades mas que se deve concentrar na capacidade de recuperar e não tanto no exercício da lamúria. O governo tentou através da apresentação do PEC IV proteger o país da entrada do FMI. Porém, a oposição encarregou-se de fazer diferente. O PSD e o PP, ofuscados pela sede de poder, preferiram pôr os interesses dos partidos à frente do interesse de Portugal. E fizeram-no com a habitual ligeireza. Porque querem ser governo. O PCP e o BE nem isso. Fizeram-no pautados pela absoluta irresponsabilidade do quanto pior melhor. E aqui estamos. O PEC IV era inaceitável, disseram eles. Mas hoje, quando vamos ter que negociar com o FMI e em que de proprietários passámos a feitores do país, o que diz a esmagadora maioria dos analistas é que o que aí vem é infinitamente pior do que seria o PEC IV. E que a imagem do país se degradou de forma profunda. Portugal está numa posição muito mais sensível, porque agora não somos nós que ditamos as regras, teremos sim de executar o que nos será imposto. Não escolheremos onde cortar e com que dimensão, mas vamos ter de, numa posição inferior, aceitar as medidas que nos forem impostas. Podíamos ter evitado isto? Com toda a certeza. Não fosse a oposição ávida e não estivesse tão desesperada por assumir o poder e teríamos tido a oportunidade de, com responsabilidade, ter escolhido outro caminho. Estas eleições não serão programáticas. Serão sim decididas entre quem escolhe Portugal e quem nos troca pela ambição do poder.