Opinião

À segunda cai quem quer

A apresentação da lista de candidatos do PSD, nos Açores, enferma à partida de dois problemas crónicos, dos quais Berta Cabral procurou fugir, mas sem sucesso. O primeiro tem a ver com aquela contínua dependência de Lisboa, que desta vez, repetindo-se aliás o episódio, fez com que Passos Coelho, antes da Comissão Política Regional, tenha feito o anúncio dos cabeças de lista do partido, incluindo o açoriano. O segundo tem a ver com a incapacidade de se renovar e rejuvenescer, apesar das contínuas tentativas, mais ou menos falhadas, vindas das várias lideranças, espalhadas por todos os lados, repetindo à exaustão o argumento, como se tentando convencer o alheio, se convencessem a si próprios. Quando o argumento não chega, logo se espevitam, fazendo lembrar outros cenários que já vimos passar, como o do candidato às Europeias, que foi substituído por Lisboa, e se tornou candidata… Ora, não sendo propriamente nova nestas questões da política, é (no mínimo) estranho que a líder do PSD/Açores, que entre outras funções, foi “chamada” a Secretária Regional das Finanças, em 1995, venha agora falar de “rejuvenescimento” e “renovação”, baseando-se numa lista que é encabeçada, pelo mesmo político, que saiu do Governo, considerando, na altura, que vinte anos seria um excessivo tempo de actividade política. Convenhamos. Passaram-se quase 40 anos. Como pode qualquer pessoa de bom senso acreditar que na lista de candidatos do PSD/Açores, em que a candidata mais nova, ocupa o 8º lugar, e quando nasceu, já o cabeça de lista, ocupava um cargo político, há renovação e rejuvenescimento? Em 1995, quando a agora líder do PSD/Açores foi chamada a gerir o imenso buraco em que se encontravam as finanças regionais – e a ampliá-lo – Joaquim Ponte, o 2º candidato, já se encontrava há 11 anos na presidência da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, a que se juntaram mais 4 anos de Parlamento Regional e 12 de Assembleia da República. Juntos, Mota Amaral e Joaquim Ponte, somam quase 80 (oitenta) anos de actividade política – umas vezes mais intensa do que outras – e isso é renovar e rejuvenescer? Qualquer coisa está mal no reino do PSD/Açores “se os novos partem e ficam só os velhos”… As notícias das últimas semanas atiraram para o “castigo” um jovem quadro do partido sem que houvesse, pelo menos publicamente, qualquer manifestação de apoio, fazendo lembrar outros tempos de péssima memória… Há assim qualquer coisa estranha nesta “fuga para a frente” das lideranças do PSD/Açores e, como não queremos crer que nos tomam por desmemoriados, talvez seja apenas (mesmo) qualquer coisa esquisita, que no reino do PSD/Açores faz (parafraseando o poeta) regressar os fantasmas e por os homens de joelhos. Mas, em política, como aliás na vida toda de todos os dias, avisa o ditado popular antigo, para qualquer lado e em qualquer lugar, que “À primeira qualquer um cai, à segunda cai quem quer.” Ora bem. Haja saúde.