Opinião

A indignação

A palavra indignação é frequentemente utilizada por muitos agentes políticos para demonstrar revolta, repulsa, ira, agastamento, raiva, irritação, desprezo ou repulsão perante essa ou aquela situação. Ainda ontem, Berta Cabral, vestindo a pele de turista em passeio de Whale Watching, actividade introduzida nos Açores com o desenvolvimento do turismo, pela mão dos governos de Carlos César, mostrou a sua “indignação” perante os últimos números referentes aos visitantes recebidos na região. Com é hábito, numa tentativa de abater tudo quanto mexe e de denegrir a política levada a cabo pelo governo regional nesse importante sector da nossa economia, esqueceu propositadamente as condicionantes resultantes da actual conjuntura económica internacional e nacional a que os Açores não puderam deixar de escapar. Quem a ouvisse, sem a conhecer ou sem ter conhecimento que a referida senhora tem responsabilidades políticas e governativas regionais e locais, que já duram há três longas décadas, até poder-lhe-ia dar algum crédito. Infelizmente, para ela, o povo tem memória! Berta Cabral, tão crítica ao estado do turismo e dos transportes, esquece, ou melhor, pretende que os açorianos esqueçam, o papel que desempenha desde o século passado, também em matéria de transportes e turismo e sobre os quais teve responsabilidades directas. Esquece que no tempo em que andou pelos governos de Mota Amaral, o número de hotéis se contavam pelos dedos de uma só mão, a animação turística era inexistente e que encontrar um turista, nacional ou estrangeiro, nos Açores era tão raro que fazia parar o trânsito como se estivéssemos perante a vinda de extraterrestres! É bom lembrar que a líder do PSD também foi presidente do Conselho de Administração da SATA e que, enquanto tal, nada fez em matérias relevantes como, por exemplo, o abaixamento das tarifas de passageiros ou dos fretes de carga ou dar asas à companhia para voos mais longínquos, para a captação de turistas e promoção da visita dos emigrantes açorianos. No tempo de Berta Cabral, as tarifas aéreas eram, e continuaram a ser, muito mais caras do as que vieram a ser implementadas pelos governos de Carlos César. Na altura em que a líder do PSD passou pela SATA, trabalhávamos na TAP em Ponta Delgada e, por força do ofício, acompanhámos mais ou menos de perto a actuação da presidente da administração da transportadora aérea regional. Em abono da verdade, e feito um grande esforço de memória, como digno de registo, apenas recordamos as inúmeras reformas, por “doença”, concedidas a jovens funcionários na casa dos 40 anos de idade. Realmente, para alguns bafejados pela benesse, mais sãos do que peros rosados das Furnas, foi um autêntico prémio da lotaria. O resultado da facilitação levada a cabo foi a saída de quadros, muitos dos quais de elevada categoria e manifestamente imprescindíveis à empresa. Por outro lado, muitos daqueles que pretendiam ver abandonar a companhia, por motivos de idade, vícios de muitos anos ou fraco desempenho funcional, mantiveram-se durante longos anos a ocupar os lugares que pretendiam renovar. Não posso esquecer a reacção de um funcionário a quem pretendiam oferecer a reforma por doença que afirmou que quem lhe comera a carne, teria de lhe roer os ossos e só há bem pouco tempo, por limite de idade, passou à situação de reforma. Indignação sentimos nós ao verificar que a líder do PSD, em vez de apresentar propostas credíveis que constituam um contributo para o desenvolvimento dos Açores, se limite à crítica fácil e á realização de festas e homenagens que lhe garantam umas fotografias nas revistas e a habitual cobertura mediática!