É com muito prazer que aceitei o convite para colaborar com este jornal através de artigos de opinião, esperando estar à altura de tamanha responsabilidade. Este é um dos casos em que tenho muita pena de o tempo me ter dado razão. Durante a campanha eleitoral para as últimas eleições legislativas afirmei várias vezes a nossa preocupação com o facto de o PSD, caso ganhasse as eleições, querer reduzir o tempo de emissão da RTP Açores. Infelizmente, tinha razão. Questionei várias vezes o PSD Açores sobre esta matéria e nunca fui esclarecido. Agora percebe-se porquê. É muito claro que o PSD Açores já sabia destas intenções, mas nada disse e nada fez para evitar que isso aconteça. As afirmações do Ministro Miguel Relvas sobre a RTP Açores e a intenção de reduzir a emissão a uma janela entre as 19 e as 23 horas, além de profundamente infelizes, despropositadas e preconceituosas, mostram a perspectiva errada e desconhecedora que o Ministro tem sobre as Autonomias Regionais. O serviço público de Rádio e Televisão numa Região como a nossa deve ser encarado como uma questão de soberania, que tem de ser assumida pelo Estado, e que deve estar ao mesmo nível das questões relacionadas com a Defesa Nacional ou com a Segurança. Trata-se de um pilar fundamental da nossa vivência enquanto comunidade. É certo que será sempre importante gerir melhor os recursos disponíveis ou melhorar a rentabilização e racionalização de meios mas não temos dúvidas que é fundamental a manutenção de um centro regional da RTP com emissão, produção e programação próprias, sendo esses encargos assumidos pelo Estado. O Governo da República, em apenas dois meses, quer destruir um projecto construído ao longo de 40 anos. A história da RTP Açores confunde-se com a história da autonomia regional e não temos dúvidas que o balanço é claramente positivo. Com esta intenção de reduzir a emissão para 4 horas diárias são postas em causa questões práticas muito importantes para a vida dos açorianos. Por exemplo, nas questões relacionadas com a protecção civil e na minimização de danos das catástrofes naturais. A RTP e a RDP Açores têm um papel importante nessas circunstâncias que é agora posto em causa. Precisamos, assim, de uma posição forte e unânime de defesa da RTP Açores e do serviço público de Rádio e Televisão na Região. É fundamental que todos estejamos unidos na defesa deste importante desígnio e que todos os agentes políticos façam valer as suas posições junto dos partidos nacionais, principalmente aqueles têm responsabilidades no Governo da República.