Opinião

O inefável Gaspar

Os próximos tempos não são animadores para Portugal. A cada conferência de imprensa do Ministro das finanças os portugueses levam mais um murro no estômago. Ou sobem os impostos que juraram não fazer subir há meia dúzia de meses. Ou cortam os subsídios em que juraram não tocar. Ultrapassado o alcance do memorando de entendimento delapida-se com ligeireza o património de coesão social de que o país se orgulhava. Com mão pesada são os trabalhadores portugueses por conta de outrem que mais perdem. Sem plano B vêem agravar-se-lhes os impostos e retirarem-se-lhes os subsídios de férias e de Natal. Empobrecimento do país em cerca de 40%. Não admira por isso que a vaga de emigração ameace subir. O orçamento de Estado que agora se fez aprovar só permite escolher um caminho: o do retrocesso. Nos próximos dois anos o Governo da República toma medidas que retiram metade daquilo que hoje ganham os portugueses. Torna-se difícil acreditar que dos escombros da situação económica que agora se prepara renasça uma economia pujante e competitiva no futuro. Este empobrecimento generalizado e excessivamente abrupto da população só trará um abismo futuro insustentável. Porque ninguém acredita que no futuro os funcionários públicos possam voltar a receber os subsídios que agora lhes são retirados. Assim como ninguém acredita que se façam poupanças de milhões sem entrar na franja dos despedimentos. O ministro Gaspar tem sido o arauto da hecatombe que nos cai nos bolsos diariamente. Mas como pode alguém acreditar que com este estrangulamento relâmpago se endireitem as contas públicas e se dinamize a economia? O que se está a fazer é a empobrecer repentinamente os portugueses. Num ataque despudorado a tudo o que soe a público, reduzindo o Estado ao mínimo possível, sem perceber que há muito se ultrapassou o limite suportável dos sacrifícios. E que pedir mais é já absolutamente irracional.