A autonomia política e administrativa foi a conquista maior que os Açores obtiveram a partir da revolução de abril de 1974. O mote tinha sido dado por anos de lutas infrutíferas, mas quando surgiu a oportunidade, os açorianos não a enjeitaram. Este é um dado adquirido reconhecido por todos.
Essa prerrogativa, ansiada há muito pelos açorianos, permitiu que estas ilhas, abandonadas pelo estado centralista que nos governava até então, se desenvolvessem.
Foram os seus governos que, legitimados pelo voto popular, traçaram estratégias para recuperar o tempo perdido.
Nos últimos anos, já com os governos do Partido Socialista e com o importante financiamento dos fundos comunitários, concretizou-se a infraestruturação da região, em áreas fundamentais, como a agricultura, a pesca, o turismo, o comércio, os transportes e a indústria. Em paralelo, foram também implementadas políticas públicas importantes, na área social, na gestão de resíduos, na produção de energia com base em fontes renováveis, na preservação do ambiente, entre outras.
A estratégia produziu efeitos rapidamente porquanto estes setores, depois de uma reestruturação, consolidaram-se e hoje contribuem ativamente para os progressivos ganhos da economia regional. O número de empresas aumentou assim como aumentou o número de pessoas empregadas, notando-se, sobretudo, um reforço da empregabilidade feminina.
Ficamos mais fortes, mais autossuficientes, mas, como parte integrante da Europa, ficamos, também, mais expostos às ameaças que surgem do exterior.
Hoje estamos a enfrentar esta crise atípica que abala a Europa, e muitos outros países do mundo, que tem como principal caraterística a imprevisibilidade dos seus efeitos nefastos.
O Governo dos Açores, e muito bem, tem centralizado a sua ação, nestes conturbados tempos, no apoio às famílias e às empresas. A decisão de colocar sempre as pessoas em primeiro lugar, confirma e reforça o lema que tem acompanhado o Partido Socialista desde que está a exercer o poder.
Mas esta crise traz outras ameaças. Poderá despertar nos centralistas – de todos os partidos, diga-se – sentimentos recalcados e que surgem á luz do dia logo na primeira oportunidade.
Não acredito que a autonomia esteja em risco, mas não tenho dúvidas que os ataques surgirão, a breve trecho, a reboque da polémica do “buraco” da Madeira.
Só há duas coisas a fazer: cerrar fileiras e resistir.