Nunca como nos últimos tempos se recorreu tanto à imagem de Frei Tomás a quem, reza a história, não faltava o dom da pregação, mas que não era exemplo em termos de ação.
Os tempos que correm exigem coerência, verdade, honestidade no discurso, que só se torna eficaz se for o espelho dos comportamentos e das atitudes.
E essa é sem dúvida uma boa forma de escrutinar os candidatos a presidente do Governo, avaliar em que medida são coerentes, consistentes no discurso e não se limitam a refugiar-se em promessas ou até forjam eventos para disfarçar o que sabem, à partida, nunca irá passar disso mesmo, uma assinatura numa folha de papel A4.
É preciso coerência, um pensamento lógico, uma ideia para os Açores e um projeto de desenvolvimento, assente em valores, em estratégias que visem o crescimento e a melhoria da qualidade de vida.
A candidata do PSD, Berta Cabral, apresentou em Janeiro de 2012 um Fundo Regional de apoio às empresas (FREA) e responsabilizou o governo, ao não aprovar essa proposta, pelos números do desemprego, desvalorizando o quadro de medidas já implementadas.
É bom lembrar que, enquanto presidente de câmara, Berta Cabral propôs em 2009 a criação de um Fundo municipal de apoio às empresas, orçado em 100 mil euros. Um Fundo que nunca apoiou empresa alguma, desde que foi criado.
Confrontada pelo PS na Assembleia Municipal, sobre o fracasso desse Fundo, a presidente de Câmara justificou-se dizendo que não era competência da autarquia apoiar empresas e que esse apoio devia ser regional. Mas afinal, a presidente de câmara de 2009 era outra? É que, como a própria gosta de afirmar, as pessoas estão fartas de palavras, querem ações concretas.
Não basta dizer que se devem apoiar as famílias, é preciso por recursos ao serviço dessas pessoas. Não basta afirmar que se aposta nas áreas sociais, e depois ficar entre os municípios que menos apoia, de forma direta, as famílias e instituições sem fins lucrativos, conforme referem os dados publicados pela Direção Geral da Administração Local. Dizer, perante uma assembleia municipal, que em 2011, a ação social da câmara apoiou 19 idosos em obras em casa, ou que outros 21 receberam apoio domiciliário, num concelho com mais de 60 mil habitantes, é muito pouco.
Não é coerente apontar o dedo ao governo regional por adjudicar obras a empresas que não são da região, quando se faz um ajuste direto a um gabinete brasileiro, por 655 mil euros, para um projeto de museu, que ainda agora aguarda na gaveta a definição da sua localização.
A líder do PSD orgulha-se da posição da autarquia de Ponta Delgada, num indicador do anuário financeiro dos municípios portugueses referente a 2010. Mas, analisados todos os indicadores, Ponta Delgada não consta entre os 20 melhores municípios de dimensão média do país (http://www.jornaldenegocios.pt/home). Não aparece entre os 50 municípios com maior independência financeira, maior receita cobrada face à esperada ou até maior percentagem de verbas transferidas para as freguesias. Aparece, sim, entre aqueles que mais aumentaram o IMI nos últimos anos e que maior dívida acumulou através das empresas municipais.
Não basta falar como faria Frei Tomás, é preciso agir em coerência. Não basta acertar contas no caixa, é preciso fomentar o desenvolvimento e a melhoria concreta da vida das famílias e das empresas.