Opinião

O PSD/Açores e a "estratégia tamagotchi"

Todos conhecemos o “tamagotchi”. Um brinquedo que foi inventado no Japão, cuja motivação consiste em cuidar de um animalzinho como se ele fosse real, dando-lhe carinho e comida virtual. O único engenho e arte que se pede ao “tratador” é a capacidade de mantê-lo vivo, enquanto se quer, e matá-lo, sem que seja crime, quando se entender… Ora bem, o PSD/Açores tem vindo a desenvolver – ao longo dos anos –exactamente esta “estratégia tamagotchi”, tendo atingido agora o seu ponto mais alto com a candidatura da Dra. Berta Cabral a Presidente do Governo dos Açores. O que começou por parecer a passagem de etapas com as “derrotas” de Álvaro Dâmaso, Manuel Arruda, Vítor Cruz e Costa Neves ou até com o afastamento de Duarte Freitas do Parlamento Europeu, enquanto Berta Cabral esperava chegar a Presidente do PSD/Açores, é agora absolutamente desmascarado com os acontecimentos dos últimos dias, transformando tudo o que se pudesse pensar sobre as perdas sucessivas de “aspirantes candidatos” numa espécie de bonequinhos virtuais… Só esta visão de "estratégia tamagotchi" pode explicar que Berta Cabral defenda uma petição pública que pretende antecipar as eleições, divulgada durante dias a fio no jornal da mesma personalidade que, em 2007, venceu, em São Miguel, as directas contra Costa Neves, candidato que era então apoiado pela presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Só mesmo esta visão de "estratégia tamagotchi" pode explicar, ainda, que depois de estarem “cá fora” os outdoors de campanha eleitoral do PSD/Açores, com o nome da candidata lá, Berta Cabral aceite ser mandatária de Passos Coelho, estando escrito na moção global de estratégia deste, que “(…) em termos nacionais, e no respeito pela autonomia regional de que goza o PSD Açores, o partido nacional apoiará a solução de candidatura a apresentar pelos açorianos social-democratas (…)”… Sou só eu que estranho que Passos Coelho não tenha declarado aberta e publicamente neste documento o seu apoio à candidata do PSD/Açores? Não posso ser. E tanto não sou que existe uma petição pública para antecipar eleições regionais. Nos últimos dias, entre campanhas em salas de hotel e lançamento de ideias copiadas de outras já anunciadas pelo Governo dos Açores, 48 horas antes, o PSD açoriano, mostrou a sua verdadeira intenção. E qual é ela? Ora, é não ter nada por cá que possa parecer piegas, para não chatear o líder nacional. O bom mesmo, pensam, era ter uns "Açores tamagotchi" e que os açorianos fossem como o boneco do jogo: uns bichinhos caladinhos, cujo único cuidado a ter seria dar-lhes de comer e abraçar só sendo preciso carregar num botão… Só isto pode explicar que se aceitem eleições antecipadas, sem pestanejar, ignorando que num momento como estes, o que devia (mesmo) estar em cima da mesa e na agenda do PSD/Açores era ajudar as pessoas, apresentar propostas próprias e originais, resolver os problemas das pessoas, aceitando democraticamente que o PS/Açores foi eleito pelos açorianos nas últimas eleições e que tem um mandato a cumprir. Mas não. O PSD açoriano queria poder tirar os Açores do bolso, olhar para o arquipélago num ecrã e com um dedo carregar num botão e dizer aos açorianos que lá estariam: “Salta agora. Dorme agora. Come agora. Vive agora. Toma lá um beijinho. Vota agora. Pronto agora estás a chatear. Morre agora.” Pelo percurso histórico do PSD/Açores (ou mesmo nacional) a “estratégia tamagotchi” pode parecer que funcione, mas em Outubro de 2012 os açorianos mostrarão que não. Entretanto no PSD/Açores vamos ver quem accionará o botão para matar o bonequinho? Tenho curiosidade. (Para que conste nunca tive um “tamagotchi”).