O tempo passa, as declarações sucedem-se e a coisa não melhora. Desta vez, Berta Cabral, a autoproclamada candidata da mudança, defendendo os “inovadores” conceitos de complementaridade e especialização como segredo para o desenvolvimento dos Açores, conceitos estes que, pasme-se, orientam atualmente a ação do Governo dos Açores, e referindo-se à necessidade de aproveitar os conhecimentos históricos da ilha do Faial na área da reparação naval, comprometeu-se a realizar um investimento de promoção da exportação desses serviços na cidade da Horta.
A desorientação, a falta de consistência e a inexistência de um plano estratégico devidamente definido para o desenvolvimento dos Açores por parte da candidatura de Berta Cabral já eram elementos conhecidos. O que, embora já fosse nítido para os mais atentos, carecia de confirmação era, até às declarações da líder do PSD/Açores proferidas no último dia 7 de Março, o efetivo conhecimento sobre a realidade e a história dos Açores, enquanto arquipélago composto por nove ilhas. Acabou por ficar claro, o que é motivo de pesar, que Berta Cabral desconhece a enorme tradição de prestação de serviços de reparação naval da ilha do Pico. Ou seja, se a ideia é, nas suas palavras, “especializar e diferenciar os produtos oferecidos em cada ilha”, nenhum sentido faz defender um investimento para promover a especialização da ilha do Faial na exportação de serviços de reparação naval, quando na ilha ao lado esta atividade é exercida com a enorme qualidade que lhe é reconhecida e que resulta não só do engenho das gentes do Pico, mas também da histórica especialização desta ilha nesse sector.
Um dos pressupostos essenciais para o desenvolvimento dos Açores é, como tem vindo a ser assumido pelo PS/A, e como tem sido executado pelo Governo Regional, o que se pode comprovar, por exemplo, com uma consulta às prioridades do Plano de Estratégia para a Coesão dos Açores (PECA), a especialização das diversas ilhas naquilo que de mais forte têm, numa lógica de complementaridade extensiva a todo o território açoriano. Defender a especialização da ilha do Faial em negócios de cariz marítimo-turístico, tendo em conta toda a tradição desta ilha nesse setor, faz todo o sentido. O que já não faz sentido é defender a especialização da ilha do Faial num setor que é historicamente assumido com sucesso como um dos palmarés da ilha do Pico, ainda mais tendo em consideração a proximidade destas duas ilhas e a natural complementaridade que as caracteriza.
Berta Cabral foi, portanto, mais uma vez infeliz. Mas não só a ela se deve imputar as culpas. Há cerca de um ano, reagindo à quebra do negócio que permitiria a reativação dos Estaleiros Navais da Madalena do Pico, Duarte Freitas, deputado do PSD/A eleito pelo círculo eleitoral desta ilha, pedia efusivamente esclarecimentos sobre a estratégia para rentabilizar e dar um novo impulso aos Estaleiros da Madalena, precisamente pela importância que o mesmo representa para a ilha do Pico. Ao que parece, essa preocupação não consta da estratégia futura do Partido Social Democrata, que prefere deslocalizar o investimento no sector para a ilha do Faial.
Estes são, de fato, os protagonistas da mudança nos Açores. Mas da mudança para muito pior. E o que se conclui de infelizes declarações como aquelas que foram proferidas na Horta no último dia 7 de Março é que mesmo no Faial, Berta Cabral continua a ser, porque não consegue ser mais, a Presidente da Câmara de Ponta Delgada.