O senhor Silva já não é senhor Silva. Foi promovido a senhor Presidente da República, nas palavras do Presidente do Governo Regional da Madeira, agora que este acha que as críticas feitas por aquele a José Sócrates são legítimas e concorda na íntegra com o seu conteúdo. Para Alberto João Jardim, o gangue de Sócrates merecia tais palavras.
Soa-me sempre a estranho o que quer que seja proferido pelo líder madeirense, e assumo que me deveria conter na análise às suas palavras uma vez que, como tantos dizem, dar atenção ao pequeno vociferador é exactamente a forma de o manter activo e vociferante. Ignorar é o melhor remédio. No entanto, não deixa de ser irónico ouvir o Jardim dizer que o Sr. Presidente tem toda a razão, que a acusação de deslealdade institucional é merecida, quando isto vem de alguém que desdenhou Passos Coelho na altura das legislativas e agora é seu mandatário. Mais, de alguém que não reconheceu a autoridade do senhor Silva, e agora lambe-lhe as botas como um cão de guarda que tem de se fazer aos transeuntes para mostrar a fidelidade ao dono. Se Sócrates foi desleal, então o que é Jardim?
Passos Coelho é que não quis comentar, por se encontrar fora do país. A sempiterna justificação que serve para todas as situações, excepto quando o assunto for os Açores ou qualquer decisão autonómica que não agrade ao Sr. Presidente. Aí já se pode falar. Se for qualquer coisa, está-se fora do país, não se comenta. Se for sobre os Açores, pode-se comentar. Mas atenção... é só quando Carlos César voltar a decidir tomar medidas para minimizar impactos sociais nos açorianos. Fora isso, não se pode comentar a situação política portuguesa fora de Portugal. Passa fora, mesmo.
Serve-nos o consolo de que a maioria das pessoas já está à espera deste tipo de oscilação de coerência nalguma política portuguesa. De tanto assistir a novelas políticas, o povo deixa de dar importância à vida real. No fundo, o que interessa à maioria dos portugueses, em época de austeridade e quando o nosso país atravessa grandes dificuldades, é de facto conseguir garantir a sua qualidade de vida com os cortes de que está o povo a ser alvo. O povo todo? Não. Aparentemente há um grupo de intrépidos resistentes funcionários públicos que, tal Asterix e a aldeia dos gauleses, permanecem intocáveis e se defendem com todas as forças do domínio romano. Serve-lhes, aos funcionários da TAP e da CGD, a defesa do seu imperador Passus Coelhux que não só lhes permite o contraditório, como também os defende.
Numa época tão exigente, tão sem-margens-para-excepções, eis que o Governo da República decide não aplicar os cortes salariais aos funcionários da TAP e da CGD por se tratarem de empresas em concorrência e que, como tal, é preferível manter os funcionários do que os perder para os outros. Aliás, como noticiou o jornal i, uma vez que os funcionários da TAP e da CGD são os funcionários mais caros do Estado, repita-se, os mais caros, é óbvio que não faz qualquer sentido reduzir o que quer que seja nos seus salários. Caso contrário, ficam amuados e vão-se embora…
Como cidadão que sou, ainda estou a tentar fazer as sinapses correctas para compreender as palavras do Ministro Miguel Relvas quando afirma que nem a TAP nem a CGD são excepções às reduções nem à suspensão dos subsídios de férias e natal. São apenas adaptações. Isso. Não são excepções à regra, são adaptações. De facto, e segundo a semântica-lexicológica-do-estruturalismo-linguístico-do-PSD (seja lá isto o que for) só não percebe quem não quer.
Expliquemos: há cortes para todos e não há subsídios de natal nem de férias para nenhum funcionário público. Excepto para os funcionários da TAP e da CGD. Ou melhor, adaptando para os funcionários da TAP e da CGD… Para o comum cidadão não há razão alguma que justifique este atestado de incompetência aos portugueses por não compreenderem a clara diferença entre excepção e adaptação. E se parte do argumento é que ambas as empresas terão de cumprir as metas dos cortes definidas pelo Governo, então a pergunta que importa colocar é: Então por que razão não se deu a outros organismos dependentes do Estado a mesma autonomia de decidir onde cortar? Afinal, são os próprios que melhor sabem onde gastam em excesso.
Em caso de dúvida, sugiro a leitura da grande obra de George Orwell, Animal Farm (daí a referência ao título desta crónica), e o desenvolvimento da máxima: Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.
Se isto não é uma excepção, então tenho de me adaptar. Tal como nos tentamos adaptar (ou exceptuar) ao acordo ortográfico que entretanto vai ser revisto.
Por cá, a líder do PSD/A e candidata a Presidente do Governo Regional dos Açores, também ela mandatária do Passus Coelhux, quer maioria absoluta nas próximas eleições regionais para seguir uma política sem excepções, à semelhança do que se tem visto. A líder de um partido, responsável pela sua maior derrota histórica em 2009, quer maioria absoluta. Também o queria nas autárquicas e no fim de contas, quando os resultados foram bem “espremidos”, afinal tinha ganho em Ponta Delgada e por isso estava tudo bem. O resto era paisagem, nada mais.
Berta Cabral não tem perfil para defender os interesses dos açorianos nem em Lisboa nem na Europa, e em caso de dúvida aconselhe-se a revisão do processo Duarte Freitas/Patrão Neves nas Europeias. Se Berta Cabral não tem iniciativa para tomar decisão quanto à tolerância no Carnaval, esperando pacientemente que o Governo Regional tomasse a decisão para não perder a face perante Lisboa, terá iniciativa para defender quem?
Ao ler as recentes promessas eleitorais do PSD/A não dá como não pensar que é sempre risível ver-se um partido prometer mais apoio à cultura quando a primeira coisa que foi feita ao nível ministerial pelo governo do PSD foi a precisamente extinção do Ministério da Cultura e a sua redução a Secretaria de Estado.
Excepcionalmente, sugiro a busca no youtube do sketch: “contemporâneos – videoclip psd”, com uma pitada de humor para desanuviar.
Rogério Sousa
Nota: Rogério Sousa escreve segundo a ortografia pré-acordo ortográfico.