Esta coisa de viver em democracia, tem muito que se lhe diga. Na realidade é mais fácil apregoar do que o concretizar.
Partidos há que , muito embora se situando no arco da democracia, acolhem no seu seio membros e altos dirigentes cujo comportamento rasa os limites da linha que separa esse regime do bolorento despotismo absolutista.
Nessa matéria, nos últimos anos, o PSD de Berta Cabral e Passos Coelho têm oferecido inúmeros e, quiçá mui tristes exemplos comportamentais inequívocos de terem sido atingidos por esse fenómeno que nos faz recuar ao início dos anos setenta do passado século XX.
Quem se não lembra da proposta da então líder laranja, Manuela Ferreira Leite, que, sob a aquiescência cúmplice e silenciosa de dirigentes nacionais e regionais do partido, indicava como caminho para a resolução dos problemas de Portugal, a suspensão temporária da democracia? Para o PSD de Ferreira Leite e Berta Cabral, a democracia certamente seria um mal menor pois, a resolução das questões sociais e económicas de um país passaria pela ausência de um regime de liberdade e de participação ativa dos cidadãos!
Para esse PSD, dirigido por idosos que atravessaram os regimes de Salazar, Caetano e viveram (será que viveram?) o alvor da liberdade trazida pelo 25 de Abril, o remédio santo para todas as “maleitas” continuava a ser um regresso ao passado, aos velhos tempos da ditadura!
Com a derrota nas Legislativas e a consequente queda de Ferreira Leite na liderança laranja e a ascensão do jovem Pedro Passos Coelho a líder, seria suposto uma enorme diferença comportamental na atual liderança.
Passos Coelho é um produto da geração pós-Abril, formado na escola política da juventude partidária laranja. Consequentemente deveria estar imune aos laivos e aos tiques indisfarçáveis de ligação ao passado.
Enganamo-nos!
Célebres, ficarão na história os conselhos do douto primeiro-ministro que apelidou os portugueses de piegas e mandou os jovens abandonar o país. Inesquecíveis as promessas de não aumentar impostos, não reduzir salários, não retirar os subsídios de férias e de Natal, não fechar escolas e hospitais e de não aceitar que os portugueses fossem submetidos a maiores sacrifícios do que os que os malvados socialistas haviam acordado com a “troika”.
Nem ao menos achamos necessário contrapor com as medidas efetivamente tomadas. Sem qualquer tipo de esforço, o mais distraído dos portugueses se apercebe e sente na pele o quão foi enganado pelo PSD de Berta Cabral e Passos Coelho.
Para que não restam dúvidas acerca desse PSD - que certamente coraria de vergonha figuras respeitáveis, como a do falecido Sá Carneiro – ficará para memória futura, expressões eloquentes e dignas de um grande líder, de um governo de um país europeu do século XXI: “Que se lixem as eleições”!
Quanto à data das regionais, Vasco Cordeiro e o PS apresentaram ao Presidente da República as razões que indicavam o dia 21 de Outubro, as quais assentavam no conhecimento antecipado do Orçamento de Estado. Com a isenção habitual, Cavaco Silva decidiu ignorar as opiniões do PS, do BE e da CDU que representam uma larguíssima maioria dos açorianos e dar cabimento à pretensão do seu partido de origem!
A terminar, não podemos deixar de notar que, finalmente, a dois meses e meio das eleições regionais, Berta Cabral decidiu assumir o que há muito acontecia na prática: o abandono da presidência da Câmara de Ponta Delgada.
Acerca do autoelogio e da obra feita – e não feita – pela ainda autarca de Ponta Delgada, havemos de voltar a falar… e muito!