Há quem se deixe apoderar por uma exaltação populista quando se aproximam eleições em que sente que as coisas vão correr mal. Berta Cabral é o mais recente exemplo dessa pulsão primária.
Uma semana depois do anúncio suicida de Passos Coelho ao País, a presidente do PSD-A, que sempre apoiou o PM, recorreu à demagogia antipolítica para negar o seu passado. Descredibilizou-se e deu uma ideia de desespero total. Berta Cabral quer cortar nos políticos para dar ao Povo.
É preciso falar a verdade e deixar de iludir as pessoas! A Dr.ª. Berta Cabral está a prometer o que sabe não poder cumprir.
O número de deputados do nosso Parlamento, bem como o seu nível remuneratório, são matérias constantes do Estatuto Político Administrativo dos Açores. Qualquer alteração depende de uma maioria de dois terços na nova Assembleia. O que obriga a estabelecer pontes e a negociar consensos com outros partidos. Não se deve prometer o que não se pode garantir.
A única proposta do PSD que não depende de negociações com terceiros é a redução da estrutura do governo. Mas também aqui há curiosidades interessantes.
Berta Cabral foi eleita Presidente de Câmara pela última vez em Outubro de 2009. Já em plena época de crise. O seu executivo camarário contou com seis elementos a tempo inteiro, a presidente e mais cinco vereadores, num concelho com 68.748 habitantes. Recorde absoluto. Se tomarmos como referência a realidade regional, 446 mil habitantes em nove ilhas, os cinco vereadores de Ponta Delgada correspondem a 18 Secretários Regionais. A defensora do mini governo teve sempre um mega executivo na Câmara.
E mais. Depois do despoletar da crise, em 2008, Berta Cabral apresentou quatro orçamentos municipais. Nenhum deles conteve qualquer medida comparável às que agora defende.
Porque perdeu Berta Cabral tantas oportunidades de “liderar pelo exemplo” como dizem os bons cristãos? A presidente do PSD não acredita no que diz, apenas procura dizer o que pensa que as pessoas querem ouvir. O desespero é decididamente um mau conselheiro.